Senhora do Monte: Verdades...

20-01-2011
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Maria do Carmo Seabra, ministra da educação, teve a amabilidade, que aliás, desde já, lhe quero agradecer penhoradamente, de me fornecer tema para uma curta entrada.
Disse a ilustre senhora, quando instada pelo jornalistas a comentar a sua não ida à Assembleia da República, qualquer coisa como: "... telefonaram-me a perguntar se eu achava adequado e interessante ir e eu disse que não...".
Bom, temos agora um dilema que, confesso, não me sinto capaz de ultrapassar. Fui educado na convicção de que a verdade é um valor basilar da convivência em sociedade, na família, no trabalho, no círculo de amigos. Ora a "seabrada" da ministra vem pôr a nú esta minha verdade, até aqui, pouco abalada.
Se a ministra falou verdade deve, então, ser elogiada por dizer que não acha interessante ir à AR esclarecer os deputados e que preferiu fazê-lo em conferência de imprensa? E a falar verdade fê-lo numa lógica objectiva ou subjectiva? Ou seja, falou verdade porque para si não é interessante ou, numa abordagem objectiva, concordamos com a ministra, e entendemos que de facto não é interessante?
O presidente Motta Amaral confessa-se chocado. Louçã, Bernardino Soares, meia bancada do PS vêm a terreiro gritar de indignação. Têm razão? E , a terem razão, podem tê-la a par da razão da ministra? Ou seja, pode a ministra não merecer castigo por falar verdade e os deputados terem razões para se sentirem indignados?
Poderão, então, ter todos razão, e a culpa, a existir, morrer solteira?
A verdade, para mim, claro está, é que este não é mais um ponto baixo. Numa expressão que tem tanto de nova como de minha, este não é mais do que o ponto onde chegámos.
Imaginem que compram uma boa camisola de lã. Que, aproveitando a época do Natal, cometem uma loucura arrombando o orçamento familiar e compram uma boa camisola de lã. Quente, com bom corte, com um toque excelente, com um ar discreto e tremendamente confortável.
Estreiam-na no dia de ano novo, pela manhãzinha, a manhãzinha em que, além da camisola de lã, entrou uma tia velha que, antes dos beijinhos da praxe, espeta com uma taça inteirinha de leite-creme em cima da camisola.
"Não faz mal tia, lava-se, eu vou vestir outra". E vai, vai vestir outra, põe aquela para lavar, esquece a nova e espera, com enorme grau de certeza, revê-la, bem como à tia, claro, num qualquer outro dia, já limpa e passada, a camisola, não a tia, dentro de uma gaveta.
Bom, e se em vez de uma camisola boa, quente, grossa, confortável, discreta, bonita, você decidisse usar aquela camisola que lhe deu aquele seu primo que, apesar de endinheirado, lhe trouxe de Macau uma coisa parecida com uma camisola, de um tecido... bom, de um tecido. Fraca, feia, desconfortável...
Pois é, não ia sobreviver à má vista da tia velha pois não? Ia debotar, criar borbotos, ficar larga, tipo saco de batatas. Você não a ia lavar, ia deitá-la fora não é?
A treta toda é que você não pode deitar a ministra fora, não pode deitar os deputados fora, não pode deitar o governo e a oposição fora, não pode deitar as camisolas sem qualidade, sem nível, sem capacidade, fora.
Não pode porque você acordou agora desta estória de embalar e descobriu onde vive, quanto ganha, quem é o seu governo, os seus ministros, a sua oposição e os seus deputados. Você acabou de descobrir com desgosto, ao qual, posso dizer-lhe, me associo desde já, que é pobre e não tem camisolas boas para substituir as más, não tem dinheiro para comprar camisolas boas, você... olhe, você não sabe, sequer, remendar as camisolas rotas que tem...
Vá lá, se tiver televisão vá ver um filme e não pense mais nisso, pense que podia ser pior, pense que o chefe Silva podia ser procurador geral da república, que o Toy podia ser governador do banco de portugal, que alguém se podia lembrar de convidar a Margarida Rebelo Pinto para ser candidata a deputada... O quê? Convidaram? Bom, olhe pense que amanhã é sexta feira e, normalmente ao fim-se-semana eles andam mais calados. E já agora, pense como seria bom que a estória tivesse sido sobre boas e más moedas. É que boas moedas parece que há quem diga que as há, agora camisolas... nã, camisolas boas, por cá? Já foi tempo.


Maria do Carmo Seabra, ministra da educação, teve a amabilidade, que aliás, desde já, lhe quero agradecer penhoradamente, de me fornecer tema para uma curta entrada.
Disse a ilustre senhora, quando instada pelo jornalistas a comentar a sua não ida à Assembleia da República, qualquer coisa como: "... telefonaram-me a perguntar se eu achava adequado e interessante ir e eu disse que não...".
Bom, temos agora um dilema que, confesso, não me sinto capaz de ultrapassar. Fui educado na convicção de que a verdade é um valor basilar da convivência em sociedade, na família, no trabalho, no círculo de amigos. Ora a "seabrada" da ministra vem pôr a nú esta minha verdade, até aqui, pouco abalada.
Se a ministra falou verdade deve, então, ser elogiada por dizer que não acha interessante ir à AR esclarecer os deputados e que preferiu fazê-lo em conferência de imprensa? E a falar verdade fê-lo numa lógica objectiva ou subjectiva? Ou seja, falou verdade porque para si não é interessante ou, numa abordagem objectiva, concordamos com a ministra, e entendemos que de facto não é interessante?
O presidente Motta Amaral confessa-se chocado. Louçã, Bernardino Soares, meia bancada do PS vêm a terreiro gritar de indignação. Têm razão? E , a terem razão, podem tê-la a par da razão da ministra? Ou seja, pode a ministra não merecer castigo por falar verdade e os deputados terem razões para se sentirem indignados?
Poderão, então, ter todos razão, e a culpa, a existir, morrer solteira?
A verdade, para mim, claro está, é que este não é mais um ponto baixo. Numa expressão que tem tanto de nova como de minha, este não é mais do que o ponto onde chegámos.
Imaginem que compram uma boa camisola de lã. Que, aproveitando a época do Natal, cometem uma loucura arrombando o orçamento familiar e compram uma boa camisola de lã. Quente, com bom corte, com um toque excelente, com um ar discreto e tremendamente confortável.
Estreiam-na no dia de ano novo, pela manhãzinha, a manhãzinha em que, além da camisola de lã, entrou uma tia velha que, antes dos beijinhos da praxe, espeta com uma taça inteirinha de leite-creme em cima da camisola.
"Não faz mal tia, lava-se, eu vou vestir outra". E vai, vai vestir outra, põe aquela para lavar, esquece a nova e espera, com enorme grau de certeza, revê-la, bem como à tia, claro, num qualquer outro dia, já limpa e passada, a camisola, não a tia, dentro de uma gaveta.
Bom, e se em vez de uma camisola boa, quente, grossa, confortável, discreta, bonita, você decidisse usar aquela camisola que lhe deu aquele seu primo que, apesar de endinheirado, lhe trouxe de Macau uma coisa parecida com uma camisola, de um tecido... bom, de um tecido. Fraca, feia, desconfortável...
Pois é, não ia sobreviver à má vista da tia velha pois não? Ia debotar, criar borbotos, ficar larga, tipo saco de batatas. Você não a ia lavar, ia deitá-la fora não é?
A treta toda é que você não pode deitar a ministra fora, não pode deitar os deputados fora, não pode deitar o governo e a oposição fora, não pode deitar as camisolas sem qualidade, sem nível, sem capacidade, fora.
Não pode porque você acordou agora desta estória de embalar e descobriu onde vive, quanto ganha, quem é o seu governo, os seus ministros, a sua oposição e os seus deputados. Você acabou de descobrir com desgosto, ao qual, posso dizer-lhe, me associo desde já, que é pobre e não tem camisolas boas para substituir as más, não tem dinheiro para comprar camisolas boas, você... olhe, você não sabe, sequer, remendar as camisolas rotas que tem...
Vá lá, se tiver televisão vá ver um filme e não pense mais nisso, pense que podia ser pior, pense que o chefe Silva podia ser procurador geral da república, que o Toy podia ser governador do banco de portugal, que alguém se podia lembrar de convidar a Margarida Rebelo Pinto para ser candidata a deputada... O quê? Convidaram? Bom, olhe pense que amanhã é sexta feira e, normalmente ao fim-se-semana eles andam mais calados. E já agora, pense como seria bom que a estória tivesse sido sobre boas e más moedas. É que boas moedas parece que há quem diga que as há, agora camisolas... nã, camisolas boas, por cá? Já foi tempo.

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