«Pude aproveitar, nos princípios de Junho de 1945, a primeira oportunidade que me foi dada para me deslocar a Berlim. (...) Eu tinha chegado sobre um outro planeta. Um extraordinário silêncio reinava sobre a cidade. Subitamente, um canto sublime de violino, puro e lancinante, imenso, ligeiramente rendilhado pelo frágil acompanhamento de um piano, jorrou de parte nenhuma e no entanto de bem perto. Invadiu-me um extraordinário sentimento de felicidade e de tristeza. Tinha reconhecido a sonata “Na Primavera”, de Beethoven. O milagre vinha de um altifalante, instalado, não sei por que razão, pelos Russos, no cimo da Porta de Brandenburgo. Para além das guerras e dos massacres, este violino que cantava para a pedra, para as ruínas, para a morte, parecia-me anunciar o advento longínquo de uma idade de ternura.» Edgar Morin, 1998
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«Pude aproveitar, nos princípios de Junho de 1945, a primeira oportunidade que me foi dada para me deslocar a Berlim. (...) Eu tinha chegado sobre um outro planeta. Um extraordinário silêncio reinava sobre a cidade. Subitamente, um canto sublime de violino, puro e lancinante, imenso, ligeiramente rendilhado pelo frágil acompanhamento de um piano, jorrou de parte nenhuma e no entanto de bem perto. Invadiu-me um extraordinário sentimento de felicidade e de tristeza. Tinha reconhecido a sonata “Na Primavera”, de Beethoven. O milagre vinha de um altifalante, instalado, não sei por que razão, pelos Russos, no cimo da Porta de Brandenburgo. Para além das guerras e dos massacres, este violino que cantava para a pedra, para as ruínas, para a morte, parecia-me anunciar o advento longínquo de uma idade de ternura.» Edgar Morin, 1998