Da Literatura: A FILA DA AJUDA

18-12-2009
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A SIC-Notícias tem estado a passar imagens do bodo aos pobres na Ajuda. Uma fila interminável (quatro mil pessoas, repete Anabela Neves com ênfase), ao longo de quatro salas, onde se misturam notáveis e anónimos, mulheres vestidas como se fossem para um baile, e até deputados que não resistem (foi o caso do social-democrata Miguel Frasquilho) a sair da fila para posar para os fotógrafos do social, enquanto outros, visivelmente enfadados, vêem passar o cortejo encostados a uma credência (foi o que fizeram os comunistas António Filipe e Bernardino Soares). Tudo isto para cumprimentar Cavaco Silva. Os últimos da fila, se não forem mandados expeditamente para casa, devem chegar ao Presidente em cima das 22:00h. No aperto geral, ninguém consegue dar um golo ou trincar o que seja. E como alguém se lembrou de servir blinis com caviar (extrapolo a partir das imagens, pois não é crível que a taça, com colher espetada, seja de compota), o risco de nódoas é directamente proporcional à confusão. Vem a propósito referir o que se passou hoje de manhã em São Bento: tendo de ir para uma fila democrática, uma vez que o protocolo de Estado eliminou as precedências, Soares foi-se embora sem cumprimentar o novo Presidente. Ponto um: Soares devia ter ido cumprimentar Cavaco, ignorando a fila. Ninguém o interpelaria por isso. Ponto dois: fazer dos cumprimentos um ritual de passagem é um rotundo disparate. Sócrates, na sua posse, eliminou o beija-mão. É pena que a medida não tenha feito escola.

A SIC-Notícias tem estado a passar imagens do bodo aos pobres na Ajuda. Uma fila interminável (quatro mil pessoas, repete Anabela Neves com ênfase), ao longo de quatro salas, onde se misturam notáveis e anónimos, mulheres vestidas como se fossem para um baile, e até deputados que não resistem (foi o caso do social-democrata Miguel Frasquilho) a sair da fila para posar para os fotógrafos do social, enquanto outros, visivelmente enfadados, vêem passar o cortejo encostados a uma credência (foi o que fizeram os comunistas António Filipe e Bernardino Soares). Tudo isto para cumprimentar Cavaco Silva. Os últimos da fila, se não forem mandados expeditamente para casa, devem chegar ao Presidente em cima das 22:00h. No aperto geral, ninguém consegue dar um golo ou trincar o que seja. E como alguém se lembrou de servir blinis com caviar (extrapolo a partir das imagens, pois não é crível que a taça, com colher espetada, seja de compota), o risco de nódoas é directamente proporcional à confusão. Vem a propósito referir o que se passou hoje de manhã em São Bento: tendo de ir para uma fila democrática, uma vez que o protocolo de Estado eliminou as precedências, Soares foi-se embora sem cumprimentar o novo Presidente. Ponto um: Soares devia ter ido cumprimentar Cavaco, ignorando a fila. Ninguém o interpelaria por isso. Ponto dois: fazer dos cumprimentos um ritual de passagem é um rotundo disparate. Sócrates, na sua posse, eliminou o beija-mão. É pena que a medida não tenha feito escola.

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