Jornal Expresso – 9 de Junho de 2007Henrique Monteiro, director do jornal Expresso, repreende com severidade o secretário de Estado da Cooperação, António Braga, pela condescendência do diplomata português para com o ditador venezuelano Chávez:«Portugal, em nome de interesses muitas vezes ilusórios, contemporiza demasiado com regimes que não merecem tanta compreensão. Na mesma semana, em Moscovo e em Caracas, este estilo ficou claramente expresso.»«Há frases mortais, toda a gente sabe, e uma delas foi proferida pelo a propósito do Governo da Venezuela: “Fiquei com muito boa impressão do elenco governativo, da sua formação de base, técnica e política”. O momento em que a frase foi proferida - Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão - tornou estas palavras ainda mais letais.»«Pode dizer-se que António Braga, o secretário de Estado, tem de rodear-se de especiais cuidados por causa dos 600 mil portugueses que ali vivem. Mas chegar à ideia repugnante de elogiar o Governo de um ditador é demasiado. Portugal tem interesses na Venezuela, mas deve ter princípios gerais; a sua diplomacia não deve ofender gratuitamente o Governo de Caracas, mas jamais deve elogiar um Governo que tem a liderança e a atitude de um homem como o Presidente daquele país.»«(...) E a Europa, que tanto se preocupa - e bem - com os direitos humanos, não pode contemporizar com regimes como os de Cuba e da Venezuela, se quer ter verdadeira voz e moral na denúncia de Guantánamo ou na crítica dos excessos israelitas.»Na versão online (paga) do Expresso, os comentaristas, um tudo nada melhor documentados, não se pouparam a esforços para salvar o artigo de Monteiro:1 a 3 comentários:adias - 9 de Junho de 2007 às 10:33:«Fica, então, mal elogiar Chavez. Monteiro dixit... »«Talvez o mísero pasquinaço em que o Expresso se tem vindo a transformar, cheio de prosódia "pensamento único" e muito "modernaço", passe a não bajular tão reverencialmente o Dr. Mário Soares que, nesta mesma edição, responde a um escriba que lhe pergunta: "O que é que achou de Chávez?" desta elogiosa maneira: »«[Chávez] é um homem de convicções. Tem uma referência: Simon Bolívar. Acredita na integração da América Latina. Uma integração - como dizem - contra o domínio dos «gringos». Quer contribuir para fazer uma espécie de União Europeia na Ibero-América para o desenvolvimento sustentável da região. É um projecto político, de cooperação entre estados soberanos, voluntário, ambicioso e, ao contrário do que alguns insinuam, não militar. Chávez tem petróleo, gás e muito dinheiro. Aproximou-se de Cuba e de Fidel de Castro. E envia petróleo para os cubanos em troca de professores, médicos e enfermeiros. Um bom negócio para ambas as partes. Na primeira vez que fui à Venezuela, no seu mandato, convidou-me e ao Raul Morodo para darmos uma volta de avião. Fomos no avião presidencial, com vários ministros."»------------------------------------------------Diógenes - 11 de Junho de 2007 às 06:35:«Censura política? Boa resposta do comentador anterior (Adias)»«Aliás, caro Monteiro, você, como habitualmente, não conta a história toda: A RCTV apelou ao golpe de Estado contra um presidente eleito. Você, obviamente, concorda.»http://resistir.info/venezuela/les_dessous_caches_p.html http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Venezuela.htm------------------------------------------------Epicurus - 12 de Junho de 2007 às 12:21:«Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão».«Numa só frase, duas mentiras: Chávez não proibiu, limitou-se a não renovar uma licença - como é prerrogativa de qualquer Governo democrático, por isso mesmo é que as licenças de emissão têm prazo; e não foi por censura política, foi por ter apelado - como também em Portugal é ilegal - ao derrube pela força de um governo sufragado em eleições democráticas.»«É natural e legítimo que Chávez não queira ter o destino de Allende. O que a TV agora encerrada estava a fazer - de modo sistemático, planeado, e concertado com os americanos - era abrir caminho a um qualquer Pinochet venezuelano.»«De qualquer modo, descanse Henrique Monteiro: depois de encerrada esta, ainda ficam na Venezuela dezenas de televisões privadas - que certamente poderão emitir as opiniões políticas que quiserem, só não poderão convocar golpes de Estado.»
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Jornal Expresso – 9 de Junho de 2007Henrique Monteiro, director do jornal Expresso, repreende com severidade o secretário de Estado da Cooperação, António Braga, pela condescendência do diplomata português para com o ditador venezuelano Chávez:«Portugal, em nome de interesses muitas vezes ilusórios, contemporiza demasiado com regimes que não merecem tanta compreensão. Na mesma semana, em Moscovo e em Caracas, este estilo ficou claramente expresso.»«Há frases mortais, toda a gente sabe, e uma delas foi proferida pelo a propósito do Governo da Venezuela: “Fiquei com muito boa impressão do elenco governativo, da sua formação de base, técnica e política”. O momento em que a frase foi proferida - Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão - tornou estas palavras ainda mais letais.»«Pode dizer-se que António Braga, o secretário de Estado, tem de rodear-se de especiais cuidados por causa dos 600 mil portugueses que ali vivem. Mas chegar à ideia repugnante de elogiar o Governo de um ditador é demasiado. Portugal tem interesses na Venezuela, mas deve ter princípios gerais; a sua diplomacia não deve ofender gratuitamente o Governo de Caracas, mas jamais deve elogiar um Governo que tem a liderança e a atitude de um homem como o Presidente daquele país.»«(...) E a Europa, que tanto se preocupa - e bem - com os direitos humanos, não pode contemporizar com regimes como os de Cuba e da Venezuela, se quer ter verdadeira voz e moral na denúncia de Guantánamo ou na crítica dos excessos israelitas.»Na versão online (paga) do Expresso, os comentaristas, um tudo nada melhor documentados, não se pouparam a esforços para salvar o artigo de Monteiro:1 a 3 comentários:adias - 9 de Junho de 2007 às 10:33:«Fica, então, mal elogiar Chavez. Monteiro dixit... »«Talvez o mísero pasquinaço em que o Expresso se tem vindo a transformar, cheio de prosódia "pensamento único" e muito "modernaço", passe a não bajular tão reverencialmente o Dr. Mário Soares que, nesta mesma edição, responde a um escriba que lhe pergunta: "O que é que achou de Chávez?" desta elogiosa maneira: »«[Chávez] é um homem de convicções. Tem uma referência: Simon Bolívar. Acredita na integração da América Latina. Uma integração - como dizem - contra o domínio dos «gringos». Quer contribuir para fazer uma espécie de União Europeia na Ibero-América para o desenvolvimento sustentável da região. É um projecto político, de cooperação entre estados soberanos, voluntário, ambicioso e, ao contrário do que alguns insinuam, não militar. Chávez tem petróleo, gás e muito dinheiro. Aproximou-se de Cuba e de Fidel de Castro. E envia petróleo para os cubanos em troca de professores, médicos e enfermeiros. Um bom negócio para ambas as partes. Na primeira vez que fui à Venezuela, no seu mandato, convidou-me e ao Raul Morodo para darmos uma volta de avião. Fomos no avião presidencial, com vários ministros."»------------------------------------------------Diógenes - 11 de Junho de 2007 às 06:35:«Censura política? Boa resposta do comentador anterior (Adias)»«Aliás, caro Monteiro, você, como habitualmente, não conta a história toda: A RCTV apelou ao golpe de Estado contra um presidente eleito. Você, obviamente, concorda.»http://resistir.info/venezuela/les_dessous_caches_p.html http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Venezuela.htm------------------------------------------------Epicurus - 12 de Junho de 2007 às 12:21:«Chávez acabava de proibir, por censura política, um canal de televisão».«Numa só frase, duas mentiras: Chávez não proibiu, limitou-se a não renovar uma licença - como é prerrogativa de qualquer Governo democrático, por isso mesmo é que as licenças de emissão têm prazo; e não foi por censura política, foi por ter apelado - como também em Portugal é ilegal - ao derrube pela força de um governo sufragado em eleições democráticas.»«É natural e legítimo que Chávez não queira ter o destino de Allende. O que a TV agora encerrada estava a fazer - de modo sistemático, planeado, e concertado com os americanos - era abrir caminho a um qualquer Pinochet venezuelano.»«De qualquer modo, descanse Henrique Monteiro: depois de encerrada esta, ainda ficam na Venezuela dezenas de televisões privadas - que certamente poderão emitir as opiniões políticas que quiserem, só não poderão convocar golpes de Estado.»