O valor das ideias: Desmontando teses manipulativas: da guerra aberta da Prisa ao PSOE, até à falsa rentabilidade do Jornal de 6ª da TVI

19-12-2009
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Assente alguma poeira, importa reflectir sobre alguns absurdos e mentiras argumentativas que caracterizaram a tentativa de associar o PS e José Sócrates ao processo de afastamento de Manuela Moura Guedes do Jornal Nacional da TVI. O argumento base assentou sempre em dois vectores, dados por adquiridos mas nunca demonstrados: o PS terá pressionado a Prisa pela sua ligação directa ao PSOE; não teria racionalidade acabar com o produto informativo de maior audiência da TVI, sendo mesmo uma má decisão empresarial. O que se demonstra de seguida é que não só está a PRISA em guerra aberta com o PSOE, particularmente com Zapatero, como as audiências do JN6ª estavam em queda livre, levantando sérias dúvidas sobre a rentabilidade de um produto com custos autónomos, num contexto em que a Prisa tem invulgares dificuldades financeiras.1. Peguemos no primeiro ponto. A desonestidade intelectual advém dele ter sido difundido por pessoas que têm obrigação de saber que o PSOE e a Prisa estão desavindos há bastante tempo. Valha a essa respeito a honestidade de Carlos Barbosa Oliveira, uma das raras vozes a dar eco disto que vi na blogosfera. Tal como Ana Matos Pires.A esse respeito, vale a pena recordar o que são os factos. E nada melhor que pegar num jornal insuspeito de simpatias pelo PS, o Público. Diz-se aí que:"Depois de anos de bom entendimento com os socialistas de Felipe González, a chegada à liderança do PSOE por José Luís Zapatero marcou um progressivo distanciamento. O facto de Zapatero ter apoiado a criação de um novo grupo de comunicação, a Mediapro, que controla o canal televisivo La Sexta e o diário espanhol Público, agravaram a situação.O mais recente episódio aconteceu no Conselho de Ministros extraordinário de 13 de Agosto, quando o executivo avançou com o decreto da televisão digital terrestre (TDT) por subscrição. Uma hora depois, a Mediapro anunciou o início das emissões de Gol TV, o seu canal por subscrição de TDT."Se pensarmos que Zapatero está no poder em Espanha desde Março de 2004, parece pouco desculpável que tanto jornalista e comentador insista, passados 5 anos, em vislumbrar simpatias socialistas entre a Moncloa e a Prisa. Ademais, o tal Conselho de Ministros extraordinário foi a 13 de Agosto de 2009, há menos de um mês, e motivou esta reacção de Juan Luís Cebrían, o Presidente Executivo da Prisa num dos jornais do grupo, o El Pais:"A suspeita de que a verdadeira urgência para aprovação do decreto-lei é favorecer os interesses de uma empresa cujos proprietários estão ligados por laços de amizade ao poder foi sugerida inclusivamente por quem aplaudiu a medida". E em entrevista à Cadena SER, do mesmo grupo foi mais longe: "Preocupa-me a qualidade democrática do nosso Governo, estar no poder não o autoriza para governar de forma caprichosa e arbitrária".Segundo relata o El País de 21 de Agosto, nessa entrevista, Cébrian acusou o Governo do PSOE de ter tomado a decisão sobre a TDT de forma a condicionar os media independentes e isentos, como se presume ele achasse que fossem os seus, claramente prejudicados na decisão do PSOE.Em suma, não parece colher a tese dos que se apressaram a apontar o dedo às cumplicidades do ex-franquista Cébrian numa cabala do socialismo ibérico. No estado actual de coisas das relações entre a Prisa e Zapatero, alguém pode legitimamente continuar a afirmar que Cébrian tinha interesses em agradar a Zapatero afastando Manuela Moura Guedes? A guerra entre os dois é aberta, em Espanha. Os Políticos da Verdade deviam saber disso.2. Com relação ao segundo ponto, o alegado "produto mais rentável da grelha informativa da TVI" estava longe de corresponder a esse suposto mérito. A rentabilidade é uma relação entre custos e proveitos. E o que se sabe dos custos, como foi revelado pela imprensa do fim de semana, é que o jornal de Moura Guedes tinha uma equipa própria, de 11 pessoas, que trabalhavam ao seviço das suas directivas, o que só é um exemplo de mau jornalismo. Mas falando de rentabilidade, a inexistência de sinergias entre a redacção da TVI e o Jornal de Nacional de Sexta resultava em que este fosse um produto autónomo que tinha que se justificar em termos de proveitos próprios, pois tinha custos próprios.As receitas de um qualquer programa televisivo têm a ver com a procura de publicidade que ele gera nos períodos contíguos e nos seus intervalos. O Jornal Nacional de 6ª, que a Direita berra que era um produto rentável, geraria receitas ou não consoante as suas audiências. E se quisessem ter uma discussão honesta, os nossos amigos do PSD e do PP teriam ido analisar isso antes de falar. Os dados da Marktest são públicos. E o que mostram?1) Que na grelha dos 20 programas mais vistos por mês, em 2009 o Jornal Nacional de Sexta aparece quase sempre atrás do Jornal Nacional dos outros dias. O JN6ª mais visto teve em regra menos audiências que o Jornal Nacional mais visto.2) Desde Maio, incusivé, as audiências do Jornal Nacional de 6ª mais visto em cada mês estavam em queda.Para um produto autónomo, com meios próprios, e reduzida capacidade de gerar sinergias com a estação, o que não era racional era manter o jornal no ar. Os liberais de mercado que pululam à direita deviam perceber isto. Ademais, num contexto conhecido de dificuldades financeiras da Prisa.Como se pode ler no Público:"Certo é que o grupo Prisa necessita de uma injecção de capital de pelo menos 300 milhões de euros até Outubro, para responder à pressão financeira dos bancos que concederam à empresa um adiamento nos empréstimos actuais, segundo a imprensa espanhola citada pela Lusa. O portal espanhol El Confidencial, que cita fontes da empresa, refere que a Prisa está a investir em várias alternativas para vender parte dos seus activos, numa altura em que a dívida total da empresa ultrapassa os cinco mil milhões de euros." "Recorde-se que os bancos credores da Prisa, com destaque para o Santander, concederam em Maio um empréstimo de 1950 milhões de euros, que se vence em Março de 2010, com "duras condições" que a empresa terá que cumprir. Para isso, a Prisa está envolvida em várias negociações paralelas, sendo que uma das mais importantes se relaciona com a venda de 40 por cento da Digital Plus, a sua plataforma de televisão paga. Em curso está também a operação para venda de parte da Media Capital. Ao que o PÚBLICO apurou, o Natexis, banco de investimento francês, delegou no Financia, banco de investimento português, a tarefa de procurar um comprador da Media Capital."Para vender um produto como a Media Capital, qualquer analisa financeiro reconhecerá que importava melhorar as contas da empresa. E o desaparecimento de um produto de rentabilidade questionável e em queda era a melhor forma de o fazer. A isto, julgava eu, que chamavam eles Economia de Mercado.


Assente alguma poeira, importa reflectir sobre alguns absurdos e mentiras argumentativas que caracterizaram a tentativa de associar o PS e José Sócrates ao processo de afastamento de Manuela Moura Guedes do Jornal Nacional da TVI. O argumento base assentou sempre em dois vectores, dados por adquiridos mas nunca demonstrados: o PS terá pressionado a Prisa pela sua ligação directa ao PSOE; não teria racionalidade acabar com o produto informativo de maior audiência da TVI, sendo mesmo uma má decisão empresarial. O que se demonstra de seguida é que não só está a PRISA em guerra aberta com o PSOE, particularmente com Zapatero, como as audiências do JN6ª estavam em queda livre, levantando sérias dúvidas sobre a rentabilidade de um produto com custos autónomos, num contexto em que a Prisa tem invulgares dificuldades financeiras.1. Peguemos no primeiro ponto. A desonestidade intelectual advém dele ter sido difundido por pessoas que têm obrigação de saber que o PSOE e a Prisa estão desavindos há bastante tempo. Valha a essa respeito a honestidade de Carlos Barbosa Oliveira, uma das raras vozes a dar eco disto que vi na blogosfera. Tal como Ana Matos Pires.A esse respeito, vale a pena recordar o que são os factos. E nada melhor que pegar num jornal insuspeito de simpatias pelo PS, o Público. Diz-se aí que:"Depois de anos de bom entendimento com os socialistas de Felipe González, a chegada à liderança do PSOE por José Luís Zapatero marcou um progressivo distanciamento. O facto de Zapatero ter apoiado a criação de um novo grupo de comunicação, a Mediapro, que controla o canal televisivo La Sexta e o diário espanhol Público, agravaram a situação.O mais recente episódio aconteceu no Conselho de Ministros extraordinário de 13 de Agosto, quando o executivo avançou com o decreto da televisão digital terrestre (TDT) por subscrição. Uma hora depois, a Mediapro anunciou o início das emissões de Gol TV, o seu canal por subscrição de TDT."Se pensarmos que Zapatero está no poder em Espanha desde Março de 2004, parece pouco desculpável que tanto jornalista e comentador insista, passados 5 anos, em vislumbrar simpatias socialistas entre a Moncloa e a Prisa. Ademais, o tal Conselho de Ministros extraordinário foi a 13 de Agosto de 2009, há menos de um mês, e motivou esta reacção de Juan Luís Cebrían, o Presidente Executivo da Prisa num dos jornais do grupo, o El Pais:"A suspeita de que a verdadeira urgência para aprovação do decreto-lei é favorecer os interesses de uma empresa cujos proprietários estão ligados por laços de amizade ao poder foi sugerida inclusivamente por quem aplaudiu a medida". E em entrevista à Cadena SER, do mesmo grupo foi mais longe: "Preocupa-me a qualidade democrática do nosso Governo, estar no poder não o autoriza para governar de forma caprichosa e arbitrária".Segundo relata o El País de 21 de Agosto, nessa entrevista, Cébrian acusou o Governo do PSOE de ter tomado a decisão sobre a TDT de forma a condicionar os media independentes e isentos, como se presume ele achasse que fossem os seus, claramente prejudicados na decisão do PSOE.Em suma, não parece colher a tese dos que se apressaram a apontar o dedo às cumplicidades do ex-franquista Cébrian numa cabala do socialismo ibérico. No estado actual de coisas das relações entre a Prisa e Zapatero, alguém pode legitimamente continuar a afirmar que Cébrian tinha interesses em agradar a Zapatero afastando Manuela Moura Guedes? A guerra entre os dois é aberta, em Espanha. Os Políticos da Verdade deviam saber disso.2. Com relação ao segundo ponto, o alegado "produto mais rentável da grelha informativa da TVI" estava longe de corresponder a esse suposto mérito. A rentabilidade é uma relação entre custos e proveitos. E o que se sabe dos custos, como foi revelado pela imprensa do fim de semana, é que o jornal de Moura Guedes tinha uma equipa própria, de 11 pessoas, que trabalhavam ao seviço das suas directivas, o que só é um exemplo de mau jornalismo. Mas falando de rentabilidade, a inexistência de sinergias entre a redacção da TVI e o Jornal de Nacional de Sexta resultava em que este fosse um produto autónomo que tinha que se justificar em termos de proveitos próprios, pois tinha custos próprios.As receitas de um qualquer programa televisivo têm a ver com a procura de publicidade que ele gera nos períodos contíguos e nos seus intervalos. O Jornal Nacional de 6ª, que a Direita berra que era um produto rentável, geraria receitas ou não consoante as suas audiências. E se quisessem ter uma discussão honesta, os nossos amigos do PSD e do PP teriam ido analisar isso antes de falar. Os dados da Marktest são públicos. E o que mostram?1) Que na grelha dos 20 programas mais vistos por mês, em 2009 o Jornal Nacional de Sexta aparece quase sempre atrás do Jornal Nacional dos outros dias. O JN6ª mais visto teve em regra menos audiências que o Jornal Nacional mais visto.2) Desde Maio, incusivé, as audiências do Jornal Nacional de 6ª mais visto em cada mês estavam em queda.Para um produto autónomo, com meios próprios, e reduzida capacidade de gerar sinergias com a estação, o que não era racional era manter o jornal no ar. Os liberais de mercado que pululam à direita deviam perceber isto. Ademais, num contexto conhecido de dificuldades financeiras da Prisa.Como se pode ler no Público:"Certo é que o grupo Prisa necessita de uma injecção de capital de pelo menos 300 milhões de euros até Outubro, para responder à pressão financeira dos bancos que concederam à empresa um adiamento nos empréstimos actuais, segundo a imprensa espanhola citada pela Lusa. O portal espanhol El Confidencial, que cita fontes da empresa, refere que a Prisa está a investir em várias alternativas para vender parte dos seus activos, numa altura em que a dívida total da empresa ultrapassa os cinco mil milhões de euros." "Recorde-se que os bancos credores da Prisa, com destaque para o Santander, concederam em Maio um empréstimo de 1950 milhões de euros, que se vence em Março de 2010, com "duras condições" que a empresa terá que cumprir. Para isso, a Prisa está envolvida em várias negociações paralelas, sendo que uma das mais importantes se relaciona com a venda de 40 por cento da Digital Plus, a sua plataforma de televisão paga. Em curso está também a operação para venda de parte da Media Capital. Ao que o PÚBLICO apurou, o Natexis, banco de investimento francês, delegou no Financia, banco de investimento português, a tarefa de procurar um comprador da Media Capital."Para vender um produto como a Media Capital, qualquer analisa financeiro reconhecerá que importava melhorar as contas da empresa. E o desaparecimento de um produto de rentabilidade questionável e em queda era a melhor forma de o fazer. A isto, julgava eu, que chamavam eles Economia de Mercado.

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