This is not simply a methaphore: Os Amores de Salazar

28-05-2010
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Não querendo parecer nenhuma pseudo-intelectual-com-aspirações-a-iluminada, :) não podia deixar de apresentar aqui uma espécie de review ao livro que terminei ontem de ler - "Os Amores de Salazar", de Felícia Cabrita, reconhecida jornalista de investigação que denunciou o escândalo Ballet Rose e Casa Pia.Posso dizer que foi uma agradável surpresa! Porque ao contrário do que eu julgava, e daquela que foi a imagem forjada pelo aparelho de propaganda do regime, António de Oliveira Salazar não era propriamente o homem austero, virtuoso, casto e "casado com a Pátria", que gostava de parecer. Contrariamente, teve várias mulheres (cerca de uma dezena) na sua vida e relações bem carnais! Glorificou o lar e a família mas nunca se pautou por esses príncipios ("faz o que eu digo, não faças o que eu faço"). Afinal, o nosso ditador também era humano... Salazar surge como uma personalidade complexa, multifacetada, contraditória até. Como descrito no prefácio de Diogo Freitas do Amaral, vejamos: Ele foi "o universitário político, o católico altivo perante a Igreja, o monárquico que consolida a República, o apreciador de multidões que não as excita nem se excita com elas, o militarista que nunca veste uma farda, o europeu que não gosta de viajar pela Europa, o defensor intransigente do Ultramar português que não conhece uma única província ultramarina, o Chefe todo-poderoso que vive apenas do seu magro vencimento e, ainda assim, todos os meses dá o que sobra em esmolas a instituições de caridade e sai do Governo tão pobre como entrou, enfim, o Ditador que, sem qualquer guarda pretoriana, triunfa de todas as tentativas de assassinato, golpe militar ou anarquismo terrosrista - e, ao fim de 40 anos de poder ininterrupto, morre tranquilamente na sua cama, sem que à noticía do seu falecimento se siga em nenhum ponto do país qualquer manifestação de júbilo por parte dos seus mais ferozes inimigos". Essas características complexas englobam igualmente a sua vida privada: tem famíla mas raramente os vê ou com eles celebra festividades; tem muitos poucos amigos, mas mantém-nos à distância para não ser influenciado; católico, terá perdido a fé a partir da meia idade; convidado para todas as grandes festas dos magnatas do Regime, não vai a nenhuma; podendo passar férias em qualquer palácio nacional, descansa em Santa Comba ou no Forte de Santo António no Estoril...Em relação a esses amores, surpreende-me encontrar um Salazar "Pinga-amor", mas com romances longos (e não encontros passageiros!), onde há diálogo intelectual mas também afecto, carinho, amizade. Certo é que as mulheres eram devotas a Salazar e ele aproveitou-se disso, em algumas situações, para as tornar suas informadoras e mensageiras das suas ideias. Não obstante, findo os amores, nunca as abandonou de todo e nunca as esqueceu. Confesso que fiquei com uma renovada visão desse figura incontornável da nossa História. Não querendo soar a salazarista, tudo nele, me parece agora diferente, singular, sui generis. Ele foi o "bom tirano", o paternalista, e é também por isso não me espanta tanto, quanto a alguns, o facto dele ter sido nomeado no programa "Os Grandes Portugueses". É impossível esquecer todas as atrocidades cometidas durante a sua ditadura mas, numa época de diluição de valores, de descredibilidade das instituições, de falência económica e social, como a que se vive hoje, a memória de tempos ora melhores surge facilmente. Até porque Salazar conseguiu equilibrar as contas públicas e fez um brilhante trabalho ao alhear o País, com inteligência e ousadia, à Segunda Guerra Mundial. Não sou de todo, repito, uma defensora de Salazar, mas acho que só um génio (a minha "pancada de estimação" pela genialidade dos ditadores e de Alberto João Jardim, ditador com estilo próprio! :D ) conseguiria subir do mais baixo patamar até ao de Presidente do Conselho e deter-se no poder por tão longo período...Sabia que:*chefe político supremo do País, Salazar nunca aceitou ser Presidente da República, arriscando ter alguém acima dele com poder para o demitir?*Ao contrário de outros ditadores, Salazar nunca aceitou aparecer fardado?*Acreditava na indissolubilidade do casamento, mas insiste até ao fim para que na Concordata de 1940 se mantenha a possibilidade de divórcio?*Acolhe na sua residência oficial de S. Bento duas jovens que trata como afilhadas ou protegidas?*Teve um caso com uma astróloga de quem não descurava a leitura dos astros aquando da tomada de importantes decisões?*Salazar terminou o curso de seminarista mas desistiu de ser padre porque, a bem da verdade, se apaixonou?* Terminou o Seminário com 16 valores e a licenciatura em Direito com 19 valores?*Salazar envolveu-se com uma mulher casada?* Apaixonou-se por uma jornalista francesa a quem não olhou a despesas para cobrir de mimos?* Tinha a alcunha, entre as mulheres, de "Troca-Tintas"?Ah pois é! :)


Não querendo parecer nenhuma pseudo-intelectual-com-aspirações-a-iluminada, :) não podia deixar de apresentar aqui uma espécie de review ao livro que terminei ontem de ler - "Os Amores de Salazar", de Felícia Cabrita, reconhecida jornalista de investigação que denunciou o escândalo Ballet Rose e Casa Pia.Posso dizer que foi uma agradável surpresa! Porque ao contrário do que eu julgava, e daquela que foi a imagem forjada pelo aparelho de propaganda do regime, António de Oliveira Salazar não era propriamente o homem austero, virtuoso, casto e "casado com a Pátria", que gostava de parecer. Contrariamente, teve várias mulheres (cerca de uma dezena) na sua vida e relações bem carnais! Glorificou o lar e a família mas nunca se pautou por esses príncipios ("faz o que eu digo, não faças o que eu faço"). Afinal, o nosso ditador também era humano... Salazar surge como uma personalidade complexa, multifacetada, contraditória até. Como descrito no prefácio de Diogo Freitas do Amaral, vejamos: Ele foi "o universitário político, o católico altivo perante a Igreja, o monárquico que consolida a República, o apreciador de multidões que não as excita nem se excita com elas, o militarista que nunca veste uma farda, o europeu que não gosta de viajar pela Europa, o defensor intransigente do Ultramar português que não conhece uma única província ultramarina, o Chefe todo-poderoso que vive apenas do seu magro vencimento e, ainda assim, todos os meses dá o que sobra em esmolas a instituições de caridade e sai do Governo tão pobre como entrou, enfim, o Ditador que, sem qualquer guarda pretoriana, triunfa de todas as tentativas de assassinato, golpe militar ou anarquismo terrosrista - e, ao fim de 40 anos de poder ininterrupto, morre tranquilamente na sua cama, sem que à noticía do seu falecimento se siga em nenhum ponto do país qualquer manifestação de júbilo por parte dos seus mais ferozes inimigos". Essas características complexas englobam igualmente a sua vida privada: tem famíla mas raramente os vê ou com eles celebra festividades; tem muitos poucos amigos, mas mantém-nos à distância para não ser influenciado; católico, terá perdido a fé a partir da meia idade; convidado para todas as grandes festas dos magnatas do Regime, não vai a nenhuma; podendo passar férias em qualquer palácio nacional, descansa em Santa Comba ou no Forte de Santo António no Estoril...Em relação a esses amores, surpreende-me encontrar um Salazar "Pinga-amor", mas com romances longos (e não encontros passageiros!), onde há diálogo intelectual mas também afecto, carinho, amizade. Certo é que as mulheres eram devotas a Salazar e ele aproveitou-se disso, em algumas situações, para as tornar suas informadoras e mensageiras das suas ideias. Não obstante, findo os amores, nunca as abandonou de todo e nunca as esqueceu. Confesso que fiquei com uma renovada visão desse figura incontornável da nossa História. Não querendo soar a salazarista, tudo nele, me parece agora diferente, singular, sui generis. Ele foi o "bom tirano", o paternalista, e é também por isso não me espanta tanto, quanto a alguns, o facto dele ter sido nomeado no programa "Os Grandes Portugueses". É impossível esquecer todas as atrocidades cometidas durante a sua ditadura mas, numa época de diluição de valores, de descredibilidade das instituições, de falência económica e social, como a que se vive hoje, a memória de tempos ora melhores surge facilmente. Até porque Salazar conseguiu equilibrar as contas públicas e fez um brilhante trabalho ao alhear o País, com inteligência e ousadia, à Segunda Guerra Mundial. Não sou de todo, repito, uma defensora de Salazar, mas acho que só um génio (a minha "pancada de estimação" pela genialidade dos ditadores e de Alberto João Jardim, ditador com estilo próprio! :D ) conseguiria subir do mais baixo patamar até ao de Presidente do Conselho e deter-se no poder por tão longo período...Sabia que:*chefe político supremo do País, Salazar nunca aceitou ser Presidente da República, arriscando ter alguém acima dele com poder para o demitir?*Ao contrário de outros ditadores, Salazar nunca aceitou aparecer fardado?*Acreditava na indissolubilidade do casamento, mas insiste até ao fim para que na Concordata de 1940 se mantenha a possibilidade de divórcio?*Acolhe na sua residência oficial de S. Bento duas jovens que trata como afilhadas ou protegidas?*Teve um caso com uma astróloga de quem não descurava a leitura dos astros aquando da tomada de importantes decisões?*Salazar terminou o curso de seminarista mas desistiu de ser padre porque, a bem da verdade, se apaixonou?* Terminou o Seminário com 16 valores e a licenciatura em Direito com 19 valores?*Salazar envolveu-se com uma mulher casada?* Apaixonou-se por uma jornalista francesa a quem não olhou a despesas para cobrir de mimos?* Tinha a alcunha, entre as mulheres, de "Troca-Tintas"?Ah pois é! :)

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