"Os apelos ao consenso e a alguma moderação na feitura da nova lei do aborto pareceriam meras afirmações de senso comum, mas acabaram por ganhar esta semana relevância acrescida. É verdade, por vezes o mero senso comum surge como a sabedoria mais profunda. Tudo por causa de tiradas várias, típicas de mau ganhador, vindas do Bloco, do PCP e mesmo do PS - Alberto Martins chegou a dizer qualquer coisa como "ninguém fará a lei por nós" - que revelam falta de tacto e tentações de um radicalismo desnecessário. A ninguém interessa que depois do segundo referendo sobre o aborto se suceda, daqui a uns anos, novo desenterrar do assunto em Portugal. Então para quê, na hora da vitória das urnas, ter uma atitude arrogante perante quantos (qualquer coisa como milhão e meio de votos) viram a sua posição derrotada? Então para quê dizer que não faz sentido uma lei com aconselhamento prévio (como se o aconselhamento fosse em algum caso desprezível, dispensável ou mesmo negativo)? Os ganhos imediatos dessa posição radical e destemperada podem trazer amargos de boca a longo prazo. Daí a necessidade de se fazer uma lei ponderada, que não hostilize de forma deliberada e gratuita sectores que votaram "não" no domingo passado mas que agora podem dar contributos para a nova lei (o PSD, que teve deputados de um lado e do outro, é um bom exemplo).O PS tinha como bandeira eleitoral despenalizar o aborto. Andou dois anos aos ésses, mas agora conseguiu-o de forma clara e meritória. É nesta altura que deve mostrar fair play democrático."Martim Silva
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"Os apelos ao consenso e a alguma moderação na feitura da nova lei do aborto pareceriam meras afirmações de senso comum, mas acabaram por ganhar esta semana relevância acrescida. É verdade, por vezes o mero senso comum surge como a sabedoria mais profunda. Tudo por causa de tiradas várias, típicas de mau ganhador, vindas do Bloco, do PCP e mesmo do PS - Alberto Martins chegou a dizer qualquer coisa como "ninguém fará a lei por nós" - que revelam falta de tacto e tentações de um radicalismo desnecessário. A ninguém interessa que depois do segundo referendo sobre o aborto se suceda, daqui a uns anos, novo desenterrar do assunto em Portugal. Então para quê, na hora da vitória das urnas, ter uma atitude arrogante perante quantos (qualquer coisa como milhão e meio de votos) viram a sua posição derrotada? Então para quê dizer que não faz sentido uma lei com aconselhamento prévio (como se o aconselhamento fosse em algum caso desprezível, dispensável ou mesmo negativo)? Os ganhos imediatos dessa posição radical e destemperada podem trazer amargos de boca a longo prazo. Daí a necessidade de se fazer uma lei ponderada, que não hostilize de forma deliberada e gratuita sectores que votaram "não" no domingo passado mas que agora podem dar contributos para a nova lei (o PSD, que teve deputados de um lado e do outro, é um bom exemplo).O PS tinha como bandeira eleitoral despenalizar o aborto. Andou dois anos aos ésses, mas agora conseguiu-o de forma clara e meritória. É nesta altura que deve mostrar fair play democrático."Martim Silva