Caro Luís:Obviamente que gostava de lhe responder que somos totalmente livres. Não somos. E parece-me que toda a pergunta do Luís acaba por me dar razão. É verdade que temos centenas de estagiários a ganhar 80 contos por mês e que escrevem o que outros (os editores) lhes ditam. É verdade que temos jornalistas de economia a escrever sobre investimentos estrangeiros depois de viajarem à conta dos investidores; que temos jornalistas de automóveis que não têm carro próprio porque mudam de bomba todas as semanas; que temos jornalistas de desporto a fazer de empresários de futebol; que temos jornalistas religiosos que batem palmas ao papa; que temos jornalistas de política que vão trabalhar para ministérios; que temos directores de jornais a escrever editoriais sobre os investimentos do patrão. Que também temos jornalistas a fazer política e ministros a fazer jornalismo. Que temos jornalistas que precisam de ganhar a vida para pagar a conta da mercearia. Temos tudo isso e é uma pena. O que não quer dizer que todos estejam errados ou que vários errados (ou vários irresponsáveis) façam um certo (ou um responsável). Ou que eu abdique de pensar e o Luís de comprar o jornal.
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Caro Luís:Obviamente que gostava de lhe responder que somos totalmente livres. Não somos. E parece-me que toda a pergunta do Luís acaba por me dar razão. É verdade que temos centenas de estagiários a ganhar 80 contos por mês e que escrevem o que outros (os editores) lhes ditam. É verdade que temos jornalistas de economia a escrever sobre investimentos estrangeiros depois de viajarem à conta dos investidores; que temos jornalistas de automóveis que não têm carro próprio porque mudam de bomba todas as semanas; que temos jornalistas de desporto a fazer de empresários de futebol; que temos jornalistas religiosos que batem palmas ao papa; que temos jornalistas de política que vão trabalhar para ministérios; que temos directores de jornais a escrever editoriais sobre os investimentos do patrão. Que também temos jornalistas a fazer política e ministros a fazer jornalismo. Que temos jornalistas que precisam de ganhar a vida para pagar a conta da mercearia. Temos tudo isso e é uma pena. O que não quer dizer que todos estejam errados ou que vários errados (ou vários irresponsáveis) façam um certo (ou um responsável). Ou que eu abdique de pensar e o Luís de comprar o jornal.