o tempo das cerejas*: Visões sobre Maio de 68 ( 1 )

19-12-2009
marcar artigo


Saber mais não faz malAtrasado um dia em relação à «rapidez» de Joana Lopes, chamo também a atenção para o dossier que a última edição de Marianne (ver síntese feita no «entre as brumas da memória») publica sobre o Maio de 68, onde, seja qual for a opinião de cada um, há análises e chamadas de atenção que vale a pena conhecer ( por maioria de razão para aqueles que, por razões de idade, apenas têm umas vagas ideias ou recordações de imagens sobre o tema). Se não me engano, a efeméride tem todos os ingredientes para um aceso debate e controvérsia, designadamente na imprensa e na blogosfera. Sem estar a puxar a brasa à minha sardinha, até porque devo confessar que sobre o assunto tenho mais perplexidades do que certezas absolutas, não posso entretanto deixar de registar que, hoje na P2 do Público, em crónica evocativa da sua vivência portuguesa do Maio de 68, Paulo Varela Gomes conclui assim: «Quando chegou a revolução portuguesa em 1974, não me lembro de me ter lembrado de Maio de 68 e não me dei directamente com pessoas para quem esse já então longínquo e apagado mês parisiense fosse referência. O Verão quente que varria Portugal e o mundo em meados da década de 70 tinha feito esquecer a Primavera de Maio. Nós não sabíamos mas era o fim de uma ofensiva revolucionária de que o Maio de 68 fora apenas uma peripécia. Depois do fim, Maio de 68 acabou por se tornar mais famoso que a revolução, mas, revestido na forma do ritual celebrativo de hoje, revela-se afinal tão inócuo como nos pareceu então, há quarenta anos.»Extracto do artigo de Éric ConanOs diversos Maios«(...) Houve diversos Maios de 68. O Maio estudantil e o Maio operário. O Maio libertário, o Maio maoísta. o Maio situacionista, o Maio cegetista [de G.C.T.] , o Maio parisiense e o Maio da província...tão mal conhecido. Nos anos que se seguiram , falava-se aliás dos «acontecimentos de Maio». Depois o plural foi abandonado em fabor de um mito clássico com uma unidade de lugar (algumas ruas entre o Odeon e o Panteão), de tempo (de 22 de Março a 30 de Maio) e de acção (lançar peras da caççada nos invólucros de gás lacrimogénio). As mesmas imagens que passam e tornam a passar em caracol.Ora, quando se interroga os franceses que viveram esta época, eles colocam à frente uma outra recordação : a maior greve geral de assalariados da história da Europa.Entre 7 e 10 milhões de grevistas, três vezes mais do que em 1936. Um momento de tomada da palavra, de pausa colectiva e por vezes alegre, num país submetido a uma modernização desregrada depois da Libertação. Os acordos de Grenelle [ nota de V.D.: então qualificados pelos grupos esquerdistas e líderes estudantis como desfecho «reformista» e «burguês» ou mesmo como «traição»] deixaram na memória dos franceses mais marcas do que as noites agitadas de Saint-Germain-dés-Prés, porque este Maio operário teve mais efeitos directos que o Maio estudantil: 35% de aumento do salário mínimo e, sobretudo, a criação da secção sindical de empresa que mudou as relações no mundo do trabalho.Mas as relações de dominação não foram tão derrubadas, o que explica talvez que a memória do Maio operário fosse rapidamente abafada pela do Maio estudantil. (...)


Saber mais não faz malAtrasado um dia em relação à «rapidez» de Joana Lopes, chamo também a atenção para o dossier que a última edição de Marianne (ver síntese feita no «entre as brumas da memória») publica sobre o Maio de 68, onde, seja qual for a opinião de cada um, há análises e chamadas de atenção que vale a pena conhecer ( por maioria de razão para aqueles que, por razões de idade, apenas têm umas vagas ideias ou recordações de imagens sobre o tema). Se não me engano, a efeméride tem todos os ingredientes para um aceso debate e controvérsia, designadamente na imprensa e na blogosfera. Sem estar a puxar a brasa à minha sardinha, até porque devo confessar que sobre o assunto tenho mais perplexidades do que certezas absolutas, não posso entretanto deixar de registar que, hoje na P2 do Público, em crónica evocativa da sua vivência portuguesa do Maio de 68, Paulo Varela Gomes conclui assim: «Quando chegou a revolução portuguesa em 1974, não me lembro de me ter lembrado de Maio de 68 e não me dei directamente com pessoas para quem esse já então longínquo e apagado mês parisiense fosse referência. O Verão quente que varria Portugal e o mundo em meados da década de 70 tinha feito esquecer a Primavera de Maio. Nós não sabíamos mas era o fim de uma ofensiva revolucionária de que o Maio de 68 fora apenas uma peripécia. Depois do fim, Maio de 68 acabou por se tornar mais famoso que a revolução, mas, revestido na forma do ritual celebrativo de hoje, revela-se afinal tão inócuo como nos pareceu então, há quarenta anos.»Extracto do artigo de Éric ConanOs diversos Maios«(...) Houve diversos Maios de 68. O Maio estudantil e o Maio operário. O Maio libertário, o Maio maoísta. o Maio situacionista, o Maio cegetista [de G.C.T.] , o Maio parisiense e o Maio da província...tão mal conhecido. Nos anos que se seguiram , falava-se aliás dos «acontecimentos de Maio». Depois o plural foi abandonado em fabor de um mito clássico com uma unidade de lugar (algumas ruas entre o Odeon e o Panteão), de tempo (de 22 de Março a 30 de Maio) e de acção (lançar peras da caççada nos invólucros de gás lacrimogénio). As mesmas imagens que passam e tornam a passar em caracol.Ora, quando se interroga os franceses que viveram esta época, eles colocam à frente uma outra recordação : a maior greve geral de assalariados da história da Europa.Entre 7 e 10 milhões de grevistas, três vezes mais do que em 1936. Um momento de tomada da palavra, de pausa colectiva e por vezes alegre, num país submetido a uma modernização desregrada depois da Libertação. Os acordos de Grenelle [ nota de V.D.: então qualificados pelos grupos esquerdistas e líderes estudantis como desfecho «reformista» e «burguês» ou mesmo como «traição»] deixaram na memória dos franceses mais marcas do que as noites agitadas de Saint-Germain-dés-Prés, porque este Maio operário teve mais efeitos directos que o Maio estudantil: 35% de aumento do salário mínimo e, sobretudo, a criação da secção sindical de empresa que mudou as relações no mundo do trabalho.Mas as relações de dominação não foram tão derrubadas, o que explica talvez que a memória do Maio operário fosse rapidamente abafada pela do Maio estudantil. (...)

marcar artigo