Escritos do Douro: Cartas de Longe: Personagens do Douro

30-06-2011
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D.Antónia, que nasceu no concelho de Godim no ano de 1810 viveu a sua infância na casa de Travassos, vindo a falecer em 1896 na casa das Nogueiras.
Dois anos depois da sua morte foi criada a Companhia Agrícola dos Vinhos do Porto, mais conhecida por "Casa Ferreirinha".
Ao falar do Douro, há nomes que se impõem e o de D. Antónia Adelaide Ferreira é um deles, conhecida carinhosamente por "Ferreirinha" ou "Ferreirinha-da-Régua" pelas gentes da sua terra.
Seu avô, Bernardo Ferreira, que vivera no tempo de D. José I, foi obrigado, sob pena de prisão, pelo Marques de Pombal, a grangear umas terras denominadas de Montes e de Rodo, convertendo-as em bonitas quintas. Por este processo não muito ortodoxo, o Marquês de Pombal conseguiu que muitos proprietários na época aumentassem os seus bens agrícolas, beneficiando desta maneira a região do Douro.
Um dia, quando Bernardo Ferreira regressava dum passeio, parando para descansar e matar a sede ao seu cavalo na fonte de Covelinhas, foi interpelado por duas patrulhas francesas, a quem teria respondido num impecável francês. As patrulhas pensaram tratar-se de um desertor e fuzilaram de imediato o pobre senhor sem ouvirem qualquer explicação. O Douro acabava assim de perder um grande homem.
Deixou três filhos, José, o mais velho, o António, e o mais novo, o Francisco.
José Bernardo Ferreira, de grande bondade e respeito, foi o pai de D. Antónia Adelaide Ferreira, que seria mais tarde a grande administradora da maior casa agrícola do Douro.
António Bernardo Ferreira era o mais inteligente e de espírito mais comerciante. Quando ainda só se falava de um possível confronto das lutas liberais, este senhor mete-se num barco rabelo e vai até Vila Nova de Gaia, onde vende os armazéns com todo o vinho por preço inferior ao praticado na altura. Quem não gostou nada deste negócio foi o irmão mais velho, porque os bens também eram dele e não fora consultado para o efeito.
Mas o negócio estava realizado e com o produto da venda compraram todo o vinho existente no Douro, transportando-o de seguida em carros de bois e récuas para a Figueira da Foz.
Entretanto rebenta a guerra civil e os armazéns de Vila Nova de Gaia são saqueados e o vinho derramado para o rio Douro pelos soldados enlouquecidos pela guerra. Mas enquanto o Norte sofria na carne a desgraça de uma guerra civil e a barra do Douro estava bloqueada, estes senhores faziam as exportações do vinho generoso para Inglaterra pela barra da Figueira da Foz.
Fizeram um excelente negócio e a família Ferreira ficou muito mais rica e poderosa...
O outro irmão, o Francisco, embora honrado, era um pouco excêntrico. Vivia no Alentejo e só voltou ao Douro para receber a herança depois da morte trágica de seu pai.
D. Antónia Adelaide Ferreira e António Bernardo Ferreira, primos em primeiro grau e filhos de José Ferreira e António Bernardo Ferreira respectivamente, unem suas vidas pelo matrimonio e têm dois filhos, a menina Maria d'Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja, e um rapaz a quem deram o nome do avô e do pai.
Mas só depois da morte do primeiro marido é que o espírito empreendedor desta senhora se manifesta de forma admirável, fazendo grandes plantações no Douro e obras de benfeitoria, tornando-se numa figura de primeira grandeza. Tão importante que o Duque de Saldanha, então Presidente do Conselho, pretende que o seu filho, o Conde de Saldanha, contraia matrimonio com a filha de tão distinta senhora.
D. Antónia recusa tal convite, embora se sentisse muito honrada, alegando para o efeito a tenra idade de sua filha, que só tinha onze anos, e que também gostaria que fosse ela a escolher o seu esposo. O Duque, habituado a não ser contrariado, manda os seus homens raptar, numa noite, a menina, à Casa de Travassos.
Mãe e filha, quando souberam o que lhes pretendiam fazer, fugiram, vestidas de camponesas e ajudadas por amigos, por caminhos difíceis, para Espanha e depois para Londres, onde se refugiaram. Depois da filha casada com o Conde de Azambuja, D. Antónia casa com Francisco José da Silva Torres, seu secretário.
Com pouco mais de meio século de existência e no auge das suas capacidades de administradora, D. Antónia compra todo o vinho do Douro para dessa forma ajudar os agricultores na luta contra os baixos preços praticados por consequência de uma crise de abundância.
Com todo o vinho comprado e guardado nos seus armazéns, eis que surge uma praga terrível chamada "filoxera" que destrói a quase totalidade dos vinhedos, lançando os durienses na miséria. Era horrível de se ver... Mas com o poder negocial que se lhe conhecia e com todo o vinho nos seus armazéns, D. Antónia pôde com facilidade negociar da melhor maneira com os ingleses tornando a casa agrícola Ferreira muito mais rica. Depois da catastrófica praga da filoxera, manda replantar as vinhas. Paga a construção de quilómetros de estrada e de caminho de ferro, dá trabalho a mil operários e, desta forma, cobre as suas vinte e três quintas com milhões de cepas.
Em 1880 D. Antónia ficou novamente viúva, mas mesmo assim continuou com a sua obra benfeitora, ajudando a construir os hospitais do Peso da Régua, Vila Real, Moncorvo e Lamego. Mandou também construir no Moledo um palácio para acolher o rei D. Luis, as termas, a piscina e um fabuloso parque. Ajudou a Misericórdia do Porto, ficando esta obrigada a socorrer qualquer familiar seu, se porventura a roda da vida fosse menos favorável. Criou inúmeras bolsas de estudo, entre as quais é de realçar a concedida ao engenheiro agrónomo, Dr Tobias Sequeira.
D. Antónia, que nasceu no concelho de Godim no anos de 1810, viveu sua infância na casa de Travassos, vindo a falecer em 1896 na casa das Nogueiras. Dois anos depois da sua morte foi criada a Companhia Agrícola dos Vinhos do Porto, mais conhecida por "Casa Ferreirinha".
O Douro perde assim sua rainha, contando o povo ainda hoje muitas histórias interessantes a seu respeito.- In Villa Regula, Setembro de 1999, texto de Marco Aurélio Peixoto.
(Transferência de arquivos do sitio "Régua" que será desativado em breve)


D.Antónia, que nasceu no concelho de Godim no ano de 1810 viveu a sua infância na casa de Travassos, vindo a falecer em 1896 na casa das Nogueiras.
Dois anos depois da sua morte foi criada a Companhia Agrícola dos Vinhos do Porto, mais conhecida por "Casa Ferreirinha".
Ao falar do Douro, há nomes que se impõem e o de D. Antónia Adelaide Ferreira é um deles, conhecida carinhosamente por "Ferreirinha" ou "Ferreirinha-da-Régua" pelas gentes da sua terra.
Seu avô, Bernardo Ferreira, que vivera no tempo de D. José I, foi obrigado, sob pena de prisão, pelo Marques de Pombal, a grangear umas terras denominadas de Montes e de Rodo, convertendo-as em bonitas quintas. Por este processo não muito ortodoxo, o Marquês de Pombal conseguiu que muitos proprietários na época aumentassem os seus bens agrícolas, beneficiando desta maneira a região do Douro.
Um dia, quando Bernardo Ferreira regressava dum passeio, parando para descansar e matar a sede ao seu cavalo na fonte de Covelinhas, foi interpelado por duas patrulhas francesas, a quem teria respondido num impecável francês. As patrulhas pensaram tratar-se de um desertor e fuzilaram de imediato o pobre senhor sem ouvirem qualquer explicação. O Douro acabava assim de perder um grande homem.
Deixou três filhos, José, o mais velho, o António, e o mais novo, o Francisco.
José Bernardo Ferreira, de grande bondade e respeito, foi o pai de D. Antónia Adelaide Ferreira, que seria mais tarde a grande administradora da maior casa agrícola do Douro.
António Bernardo Ferreira era o mais inteligente e de espírito mais comerciante. Quando ainda só se falava de um possível confronto das lutas liberais, este senhor mete-se num barco rabelo e vai até Vila Nova de Gaia, onde vende os armazéns com todo o vinho por preço inferior ao praticado na altura. Quem não gostou nada deste negócio foi o irmão mais velho, porque os bens também eram dele e não fora consultado para o efeito.
Mas o negócio estava realizado e com o produto da venda compraram todo o vinho existente no Douro, transportando-o de seguida em carros de bois e récuas para a Figueira da Foz.
Entretanto rebenta a guerra civil e os armazéns de Vila Nova de Gaia são saqueados e o vinho derramado para o rio Douro pelos soldados enlouquecidos pela guerra. Mas enquanto o Norte sofria na carne a desgraça de uma guerra civil e a barra do Douro estava bloqueada, estes senhores faziam as exportações do vinho generoso para Inglaterra pela barra da Figueira da Foz.
Fizeram um excelente negócio e a família Ferreira ficou muito mais rica e poderosa...
O outro irmão, o Francisco, embora honrado, era um pouco excêntrico. Vivia no Alentejo e só voltou ao Douro para receber a herança depois da morte trágica de seu pai.
D. Antónia Adelaide Ferreira e António Bernardo Ferreira, primos em primeiro grau e filhos de José Ferreira e António Bernardo Ferreira respectivamente, unem suas vidas pelo matrimonio e têm dois filhos, a menina Maria d'Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja, e um rapaz a quem deram o nome do avô e do pai.
Mas só depois da morte do primeiro marido é que o espírito empreendedor desta senhora se manifesta de forma admirável, fazendo grandes plantações no Douro e obras de benfeitoria, tornando-se numa figura de primeira grandeza. Tão importante que o Duque de Saldanha, então Presidente do Conselho, pretende que o seu filho, o Conde de Saldanha, contraia matrimonio com a filha de tão distinta senhora.
D. Antónia recusa tal convite, embora se sentisse muito honrada, alegando para o efeito a tenra idade de sua filha, que só tinha onze anos, e que também gostaria que fosse ela a escolher o seu esposo. O Duque, habituado a não ser contrariado, manda os seus homens raptar, numa noite, a menina, à Casa de Travassos.
Mãe e filha, quando souberam o que lhes pretendiam fazer, fugiram, vestidas de camponesas e ajudadas por amigos, por caminhos difíceis, para Espanha e depois para Londres, onde se refugiaram. Depois da filha casada com o Conde de Azambuja, D. Antónia casa com Francisco José da Silva Torres, seu secretário.
Com pouco mais de meio século de existência e no auge das suas capacidades de administradora, D. Antónia compra todo o vinho do Douro para dessa forma ajudar os agricultores na luta contra os baixos preços praticados por consequência de uma crise de abundância.
Com todo o vinho comprado e guardado nos seus armazéns, eis que surge uma praga terrível chamada "filoxera" que destrói a quase totalidade dos vinhedos, lançando os durienses na miséria. Era horrível de se ver... Mas com o poder negocial que se lhe conhecia e com todo o vinho nos seus armazéns, D. Antónia pôde com facilidade negociar da melhor maneira com os ingleses tornando a casa agrícola Ferreira muito mais rica. Depois da catastrófica praga da filoxera, manda replantar as vinhas. Paga a construção de quilómetros de estrada e de caminho de ferro, dá trabalho a mil operários e, desta forma, cobre as suas vinte e três quintas com milhões de cepas.
Em 1880 D. Antónia ficou novamente viúva, mas mesmo assim continuou com a sua obra benfeitora, ajudando a construir os hospitais do Peso da Régua, Vila Real, Moncorvo e Lamego. Mandou também construir no Moledo um palácio para acolher o rei D. Luis, as termas, a piscina e um fabuloso parque. Ajudou a Misericórdia do Porto, ficando esta obrigada a socorrer qualquer familiar seu, se porventura a roda da vida fosse menos favorável. Criou inúmeras bolsas de estudo, entre as quais é de realçar a concedida ao engenheiro agrónomo, Dr Tobias Sequeira.
D. Antónia, que nasceu no concelho de Godim no anos de 1810, viveu sua infância na casa de Travassos, vindo a falecer em 1896 na casa das Nogueiras. Dois anos depois da sua morte foi criada a Companhia Agrícola dos Vinhos do Porto, mais conhecida por "Casa Ferreirinha".
O Douro perde assim sua rainha, contando o povo ainda hoje muitas histórias interessantes a seu respeito.- In Villa Regula, Setembro de 1999, texto de Marco Aurélio Peixoto.
(Transferência de arquivos do sitio "Régua" que será desativado em breve)

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