O valor das ideias: Keynesianismo simples: o exemplo do blogger em crise de procura

19-12-2009
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Vamos lá ver. Custos. Em princípio há duas componentes fundamentais. Um computador e uma ligação à internet. Preferencialmente de banda larga, e se possível móvel porque a clientela, muito justamente é sensível a silêncios longos. Mas o computador normalmente já existe, ou virtualmente a sua aquisição terá também outros fins em mente. Não se pode verdadeiramente dizer que alguém vá comprar um computador especificamente com o fim de criar um blog. Ou vá criar uma ligação à internet com esse propósito.Em todo o caso, o computador corresponde ao que em economia se chamam de custos fixos. Melhor expressos na expressão sunk costs. Dito de outra forma, uma vez comprado, o custo está necessariamente suportado. O volume de actividade: 1, 10, 200 ou 2000 posts por dia não afectam o custo do computador. A actividade do blogger não depende por isso daquilo que investiu em equipamento.Poderá já depender da sua ligação à internet. Em certas circunstâncias, o tempo de utilização pode encarecer a produção do blog. Daí se calhar a proliferação de sociedades, isto é de blogs colectivos. Se forem 10 bloggers, o volume diário está garantido para assegurar um número de clientes interessante, e cada um usou pouco do seu orçamento para ser blogger. Mais, se por acaso, o blog se caracterizar por posts mínimos, daqueles de 2 linhas ou nem isso, os custos ditos variáveis, praticamente desaparecem. Uma ligação de 1 minuto e consegue-se colocar uma fotografia com um título que achamos com piada, e uma frase igualmente satisfatória do nosso critério subjectivo de gozo. Mas em menos de um minuto conseguimos simplesmente a frase e o título. Ou ainda em menos apenas a frase.O verdadeiro custo para o blogger está na frase. Porque implica algum tipo, do mais complexo ao mais simples de pensamento. E como mostram as estatísticas, a popularidade do twitter entre nós é das maiores do mundo. Por isso em 140 caracteres, com espaços, o pessoal sente-se bem a comunicar (disclaimer: sou utilizador do twitter). Mas voltando à vaca fria, ou à batata quente, o blogger necessita de produzir a frase. E aqui tem algumas opções com custos diferentes:a) o blogger somítico pensou na frase previamente, antes de aceder à net. Pode ser um título de um jornal do dia. Preferencialmente com piada, ou, no caso dos blogs colectivos, que sirva a mensagem política que unifica a turma. b) mais comum é o blogger ir a um dos blogs amigos e retirar um link, ou ir ao you tube retirar um vídeo. Pode ou não acrescentar um comentário que admita com piada. Ora se os donwloads do youtube são gratuítos, e nos blogs amigos arranja-se sempre qualquer coisa para linkar, a coisa dá-se pelo mesmo preço. Estamos em bom rigor no tal 1 minuto. O drama continua a ser a frase, esse pensamento único do blogger. Não tem um custo financeiro, eu sei, mas até os mais liberais concordam com a ideia de custo de oportunidade: por estar a pensar, o blogger está a deixar de fazer outra coisa: a não ser que seja multi tasking e consiga pensar nisso e na similitude dos movimentos dos preços dos activos com o processos de Wiener, ao mesmo tempo. Embora não aconselhe ninguém a fazer posts sobre processos de Wiener. Sobretudo os obcecados com sitemeters e afins. ___________________________________________________________________Em síntese o custo total do post será CT= preço de ligação* tempo de escrita do post (em que na escrita se inclui a busca da frase, vídeo ou link). Admitamos agora que há uma crise de procura. Sim, daquelas coisas que eu digo que o mundo padece neste momento. Ninguém está para surfar na bloga à procura do post do século. Se a receita do blogger for a sua satisfação com o número de pessoas que o lê (e há muitos que o dizem), essa quebra de procura arrisca-se a tornar não compensatória a elaboração do post. Por exemplo, se eu tiver perdido 10 minutos a escrever isto e a ligação custar 1 por minuto, preciso de uma satisfação de pelo menos 10 euros. Admitamos que a satisfação se mede em dinheiro e cada leitor vale 1 euro. Se eu antecipar que a procura é baixa, tipo 3 pessoas, não vou oferecer este post. Isto, mesmo que o Estado me baixe o IRC, me paga o IVA mais cedo, ou seja lá o que for. Porque se eu só tiver 3 clientes o IVA entregue ao estado não será o rombo da minha tesouraria. Com um resultado líquido de -7 euros, o IRC não me preocupa muito. Desçam a taxa para 5% que eu pago o mesmo....Facilidade de despedimento? Mas o blogger é o protótipo da microempresa. Eu só me posso despedir a mim. Não estou a ver. Vou fechar o blog porque nada dessas soluções me reanima.___________________________________________________________________A menos que o Estado decida fomentar a leitura de blogs. Isto é, compensar as pessoas dando-lhes 1 euro por hora que gastem na blogosfera. Isso talvez reanime a procura. Investimento Público? Transferências sociais? Chamem-lhe o que quiserem. Se só o estado pode gastar e gastar em fomentar o uso da net, eu acredito que vale a pena voltar a ser blogger, porque já terei alguma satisfação nisso.___________________________________________________________________A isto chama-se política económica! É subjectiva? É. Depende de acharmos que o Estado deve ou não apostar em que a população use a net e a blogosfera. Mas para isso votamos. E escolhemos consoante as nossas prioridades. Um governo democrático tem a legitimidade de decidir fomentar o que prometeu. Foi a internet? Seja. O que não é subjectivo é que sem fomentar nada, a actividade bloguística e todas as outras estagnam em crise de procura.


Vamos lá ver. Custos. Em princípio há duas componentes fundamentais. Um computador e uma ligação à internet. Preferencialmente de banda larga, e se possível móvel porque a clientela, muito justamente é sensível a silêncios longos. Mas o computador normalmente já existe, ou virtualmente a sua aquisição terá também outros fins em mente. Não se pode verdadeiramente dizer que alguém vá comprar um computador especificamente com o fim de criar um blog. Ou vá criar uma ligação à internet com esse propósito.Em todo o caso, o computador corresponde ao que em economia se chamam de custos fixos. Melhor expressos na expressão sunk costs. Dito de outra forma, uma vez comprado, o custo está necessariamente suportado. O volume de actividade: 1, 10, 200 ou 2000 posts por dia não afectam o custo do computador. A actividade do blogger não depende por isso daquilo que investiu em equipamento.Poderá já depender da sua ligação à internet. Em certas circunstâncias, o tempo de utilização pode encarecer a produção do blog. Daí se calhar a proliferação de sociedades, isto é de blogs colectivos. Se forem 10 bloggers, o volume diário está garantido para assegurar um número de clientes interessante, e cada um usou pouco do seu orçamento para ser blogger. Mais, se por acaso, o blog se caracterizar por posts mínimos, daqueles de 2 linhas ou nem isso, os custos ditos variáveis, praticamente desaparecem. Uma ligação de 1 minuto e consegue-se colocar uma fotografia com um título que achamos com piada, e uma frase igualmente satisfatória do nosso critério subjectivo de gozo. Mas em menos de um minuto conseguimos simplesmente a frase e o título. Ou ainda em menos apenas a frase.O verdadeiro custo para o blogger está na frase. Porque implica algum tipo, do mais complexo ao mais simples de pensamento. E como mostram as estatísticas, a popularidade do twitter entre nós é das maiores do mundo. Por isso em 140 caracteres, com espaços, o pessoal sente-se bem a comunicar (disclaimer: sou utilizador do twitter). Mas voltando à vaca fria, ou à batata quente, o blogger necessita de produzir a frase. E aqui tem algumas opções com custos diferentes:a) o blogger somítico pensou na frase previamente, antes de aceder à net. Pode ser um título de um jornal do dia. Preferencialmente com piada, ou, no caso dos blogs colectivos, que sirva a mensagem política que unifica a turma. b) mais comum é o blogger ir a um dos blogs amigos e retirar um link, ou ir ao you tube retirar um vídeo. Pode ou não acrescentar um comentário que admita com piada. Ora se os donwloads do youtube são gratuítos, e nos blogs amigos arranja-se sempre qualquer coisa para linkar, a coisa dá-se pelo mesmo preço. Estamos em bom rigor no tal 1 minuto. O drama continua a ser a frase, esse pensamento único do blogger. Não tem um custo financeiro, eu sei, mas até os mais liberais concordam com a ideia de custo de oportunidade: por estar a pensar, o blogger está a deixar de fazer outra coisa: a não ser que seja multi tasking e consiga pensar nisso e na similitude dos movimentos dos preços dos activos com o processos de Wiener, ao mesmo tempo. Embora não aconselhe ninguém a fazer posts sobre processos de Wiener. Sobretudo os obcecados com sitemeters e afins. ___________________________________________________________________Em síntese o custo total do post será CT= preço de ligação* tempo de escrita do post (em que na escrita se inclui a busca da frase, vídeo ou link). Admitamos agora que há uma crise de procura. Sim, daquelas coisas que eu digo que o mundo padece neste momento. Ninguém está para surfar na bloga à procura do post do século. Se a receita do blogger for a sua satisfação com o número de pessoas que o lê (e há muitos que o dizem), essa quebra de procura arrisca-se a tornar não compensatória a elaboração do post. Por exemplo, se eu tiver perdido 10 minutos a escrever isto e a ligação custar 1 por minuto, preciso de uma satisfação de pelo menos 10 euros. Admitamos que a satisfação se mede em dinheiro e cada leitor vale 1 euro. Se eu antecipar que a procura é baixa, tipo 3 pessoas, não vou oferecer este post. Isto, mesmo que o Estado me baixe o IRC, me paga o IVA mais cedo, ou seja lá o que for. Porque se eu só tiver 3 clientes o IVA entregue ao estado não será o rombo da minha tesouraria. Com um resultado líquido de -7 euros, o IRC não me preocupa muito. Desçam a taxa para 5% que eu pago o mesmo....Facilidade de despedimento? Mas o blogger é o protótipo da microempresa. Eu só me posso despedir a mim. Não estou a ver. Vou fechar o blog porque nada dessas soluções me reanima.___________________________________________________________________A menos que o Estado decida fomentar a leitura de blogs. Isto é, compensar as pessoas dando-lhes 1 euro por hora que gastem na blogosfera. Isso talvez reanime a procura. Investimento Público? Transferências sociais? Chamem-lhe o que quiserem. Se só o estado pode gastar e gastar em fomentar o uso da net, eu acredito que vale a pena voltar a ser blogger, porque já terei alguma satisfação nisso.___________________________________________________________________A isto chama-se política económica! É subjectiva? É. Depende de acharmos que o Estado deve ou não apostar em que a população use a net e a blogosfera. Mas para isso votamos. E escolhemos consoante as nossas prioridades. Um governo democrático tem a legitimidade de decidir fomentar o que prometeu. Foi a internet? Seja. O que não é subjectivo é que sem fomentar nada, a actividade bloguística e todas as outras estagnam em crise de procura.

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