Cavaco arrasa “devaneios revolucionários” do Governo e “verborreia” de Marcelo

30-08-2017
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Cavaco Silva demorou um ano até aceitar o convite da JSD para a Universidade de Verão do partido, em Castelo de Vide, Portalegre, mas bastou ouvi-lo para perceber que vontade de intervir não lhe faltava. Desengravatado e informal, o ex-Presidente da República arrasou a geringonça, colou António Costa a François Hollande e Alexis Tsipras – "acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam" – e defendeu o Presidente francês Emmanuel Macron, contra Marcelo: "A palavra presidencial deve ser rara".

O tema era "Os jovens e a politica: quando a realidade tira o tapete à ideologia" e foi quanto baste para o ex-PR tirar o tapete ao Governo das esquerdas. "De facto, caros jovens, na zona euro a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia", afirmou, "e os Governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental".

Pedro Passos Coelho foi de propósito ao Alentejo para receber e ouvir o ex-líder do PSD e não podia ter melhor brinde. Cavaco só não anteviu a vinda do Diabo mas corroborou o essencial do que Passos tem contraposto à governação de António Costa: não é "com cativações e consequente degradação dos serviços públicos, cortes no investimento, medidas extraordinárias e engenharia orçamental criativa" que se põe o país a crescer.

O economista Cavaco mostrou-se, pelo contrário, preocupado com o rumo da carga fiscal – "o nosso sistema fiscal perdeu lógica e é fruto do improviso", afirmou. E avisou que "a realidade da concorrência fiscal também tende a impor-se às preferências ideológicas, os investidores tendem a evitar países com carga fiscal muito elevadas" e Portugal arrisca-se "a ser remetido para a cauda da União Europeia" no que toca ao crescimento.

Foram inúmeras as indiretas à coligação das esquerdas, seja pela forma como mantém Portugal "cinco pontos acima da carga fiscal média dos países do sul e do leste da UE", impedindo que o país "seja competitivo"; seja pela dimensão que defendem para o Estado – "a nossa despesa pública está quatro pontos percentuais acima da de Espanha, e existe um limite a partir do qual a relação custo/eficácia fica em causa"; seja pela forma como tentaram condicionar a escolha dos novos membros do Conselho de Finanças Públicas – "a qualidade da nossa democracia depende muito da independência destes orgãos"; seja pela defesa feita por alguns parceiros de António Costa da nossa saída do euro – "se lhes perguntarem para que galáxia seríamos remetidos, talvez para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela".

Muito cáustico com os responsáveis políticos da esquerda europeia que tentaram, em vão, pôr em causa as regras do euro, Cavaco Silva acusou o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras de ter acabado "por mandar a ideologia para o lixo e aceitar um terceiro resgate com medidas mais duras do que as que os gregos tinham rejeitado em referendo". Num apelo velado ao voto no PSD, o ex-Presidente disse acreditar que "os portugueses ainda preferem a verdade, a honestidade, o trabalho sério, a dedicação e a competência". Um inesperado brinde para a rentrée de Passos Coelho.

Marcelo Rebelo de Sousa não escapou a este regresso de Cavaco à política. Sem nunca se referir diretamente ao atual Presidente da República, o antecessor recorreu a uma análise do estilo do Presidente Macron para deixar perceber sem tibiezas o que pensa de Marcelo.

Criticando abertamente "a verborreia frenética dos políticos" que "não dizem nada de relevante", Cavaco defendeu que "a palavra presidencial deve ser rara" e considerou que "não passa pela cabeça de ninguém que ele (Macron, o anti-Marcelo?) telefone a um jornalista para lhe passar uma informação".

Avesso "a promiscuidades com jornalistas", Cavaco Silva foi fiel à sua histórica aversão a comentadores (costumava chamar-lhes "profetas da desgraça", desta vez disse que "os que valem a pena não enchem os dedos de uma mão") e mesmo a alguns jornalistas. "As informações políticas falsas não são só na América de Trump. Também há notícias falsas, efémeras, absurdas, e estúpidas, em Portugal". Exemplo? A que deu como certo que ele, Cavaco, tinha defendido no Conselho de Estado sanções a Portugal, "quando nem disse uma palavra sobre esse assunto".

Sobre a classe política, Cavaco Silva também mantém a cartilha de sempre: "É muito importante que se esteja na política sem que dela se dependa para ganhar a vida". Ou seja, Cavaco aconselha aos jovens da Jota que não desistam de estudar – "considero um erro um jovem abrandar os estudos a troco de um lugar político". Eis um ex-líder do PSD a tentar contrariar uma tentação de décadas.

De si próprio, Cavaco Silva não falou mas deixou perceber alguma mágoa. "Ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento", afirmou. Foi o desabafo inevitável de quem, tendo estado nos píncaros, saíu de cena em queda. Não por acaso, Cavaco terminou a aconselhar aos jovens a leitura de um artigo da jornalista Maria João Avillez no jornal online "Observador", intitulado "O meu mundo não é deste reino".

Cavaco Silva demorou um ano até aceitar o convite da JSD para a Universidade de Verão do partido, em Castelo de Vide, Portalegre, mas bastou ouvi-lo para perceber que vontade de intervir não lhe faltava. Desengravatado e informal, o ex-Presidente da República arrasou a geringonça, colou António Costa a François Hollande e Alexis Tsipras – "acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam" – e defendeu o Presidente francês Emmanuel Macron, contra Marcelo: "A palavra presidencial deve ser rara".

O tema era "Os jovens e a politica: quando a realidade tira o tapete à ideologia" e foi quanto baste para o ex-PR tirar o tapete ao Governo das esquerdas. "De facto, caros jovens, na zona euro a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia", afirmou, "e os Governos podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam sempre por se conformar com as regras da disciplina orçamental".

Pedro Passos Coelho foi de propósito ao Alentejo para receber e ouvir o ex-líder do PSD e não podia ter melhor brinde. Cavaco só não anteviu a vinda do Diabo mas corroborou o essencial do que Passos tem contraposto à governação de António Costa: não é "com cativações e consequente degradação dos serviços públicos, cortes no investimento, medidas extraordinárias e engenharia orçamental criativa" que se põe o país a crescer.

O economista Cavaco mostrou-se, pelo contrário, preocupado com o rumo da carga fiscal – "o nosso sistema fiscal perdeu lógica e é fruto do improviso", afirmou. E avisou que "a realidade da concorrência fiscal também tende a impor-se às preferências ideológicas, os investidores tendem a evitar países com carga fiscal muito elevadas" e Portugal arrisca-se "a ser remetido para a cauda da União Europeia" no que toca ao crescimento.

Foram inúmeras as indiretas à coligação das esquerdas, seja pela forma como mantém Portugal "cinco pontos acima da carga fiscal média dos países do sul e do leste da UE", impedindo que o país "seja competitivo"; seja pela dimensão que defendem para o Estado – "a nossa despesa pública está quatro pontos percentuais acima da de Espanha, e existe um limite a partir do qual a relação custo/eficácia fica em causa"; seja pela forma como tentaram condicionar a escolha dos novos membros do Conselho de Finanças Públicas – "a qualidade da nossa democracia depende muito da independência destes orgãos"; seja pela defesa feita por alguns parceiros de António Costa da nossa saída do euro – "se lhes perguntarem para que galáxia seríamos remetidos, talvez para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela".

Muito cáustico com os responsáveis políticos da esquerda europeia que tentaram, em vão, pôr em causa as regras do euro, Cavaco Silva acusou o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras de ter acabado "por mandar a ideologia para o lixo e aceitar um terceiro resgate com medidas mais duras do que as que os gregos tinham rejeitado em referendo". Num apelo velado ao voto no PSD, o ex-Presidente disse acreditar que "os portugueses ainda preferem a verdade, a honestidade, o trabalho sério, a dedicação e a competência". Um inesperado brinde para a rentrée de Passos Coelho.

Marcelo Rebelo de Sousa não escapou a este regresso de Cavaco à política. Sem nunca se referir diretamente ao atual Presidente da República, o antecessor recorreu a uma análise do estilo do Presidente Macron para deixar perceber sem tibiezas o que pensa de Marcelo.

Criticando abertamente "a verborreia frenética dos políticos" que "não dizem nada de relevante", Cavaco defendeu que "a palavra presidencial deve ser rara" e considerou que "não passa pela cabeça de ninguém que ele (Macron, o anti-Marcelo?) telefone a um jornalista para lhe passar uma informação".

Avesso "a promiscuidades com jornalistas", Cavaco Silva foi fiel à sua histórica aversão a comentadores (costumava chamar-lhes "profetas da desgraça", desta vez disse que "os que valem a pena não enchem os dedos de uma mão") e mesmo a alguns jornalistas. "As informações políticas falsas não são só na América de Trump. Também há notícias falsas, efémeras, absurdas, e estúpidas, em Portugal". Exemplo? A que deu como certo que ele, Cavaco, tinha defendido no Conselho de Estado sanções a Portugal, "quando nem disse uma palavra sobre esse assunto".

Sobre a classe política, Cavaco Silva também mantém a cartilha de sempre: "É muito importante que se esteja na política sem que dela se dependa para ganhar a vida". Ou seja, Cavaco aconselha aos jovens da Jota que não desistam de estudar – "considero um erro um jovem abrandar os estudos a troco de um lugar político". Eis um ex-líder do PSD a tentar contrariar uma tentação de décadas.

De si próprio, Cavaco Silva não falou mas deixou perceber alguma mágoa. "Ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento", afirmou. Foi o desabafo inevitável de quem, tendo estado nos píncaros, saíu de cena em queda. Não por acaso, Cavaco terminou a aconselhar aos jovens a leitura de um artigo da jornalista Maria João Avillez no jornal online "Observador", intitulado "O meu mundo não é deste reino".

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