O cartaz publicitário de uma agência de viagens sediada em Karlsruhe, cidade independente do Estado Alemão de Baden-Württemberg, não podia ser mais claro, ao promover férias nos «PIIGS» com uma frase seca e lapidar: «Vá visitar os seus impostos!» («Besuchen Sie doch ihre Steuern!» - rodeada das referências a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
De facto, a retumbante vitória de Angela Merkel em muito deve à persistência, junto da opinião pública alemã, da campanha de desinformação em torno do «norte que trabalha» e do «sul irresponsável e esbanjador». Não se esperem, por isso, mudanças de fundo no dictat europeu: para além das razões apontadas pelo João Rodrigues e pelo Daniel Oliveira em dois excelentes posts, este factor de motivação do voto continua a ter uma força determinante. A chanceler já se encarregou, aliás, de dissipar dúvidas que existissem: «nada vai mudar em termos de orientação de política europeia»: o ajustamento assente na austeridade e no esmagamento dos salários (directos e indirectos) é para continuar.
Mas é também por isso que os resultados das eleições alemãs revelam, em segundo lugar, a incapacidade de diálogo e de construção, à esquerda, de uma proposta alternativa para a crise europeia. De uma proposta clara, robusta, metódica e consequente, capaz de derrubar, de forma convincente, a narrativa hegemónica que assim prevalece. Hegemonia no discurso à direita e défice de convergência programática à esquerda: dois sinais importantes das eleições alemãs que importa ter em conta quando se pensa em Portugal.
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O cartaz publicitário de uma agência de viagens sediada em Karlsruhe, cidade independente do Estado Alemão de Baden-Württemberg, não podia ser mais claro, ao promover férias nos «PIIGS» com uma frase seca e lapidar: «Vá visitar os seus impostos!» («Besuchen Sie doch ihre Steuern!» - rodeada das referências a Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
De facto, a retumbante vitória de Angela Merkel em muito deve à persistência, junto da opinião pública alemã, da campanha de desinformação em torno do «norte que trabalha» e do «sul irresponsável e esbanjador». Não se esperem, por isso, mudanças de fundo no dictat europeu: para além das razões apontadas pelo João Rodrigues e pelo Daniel Oliveira em dois excelentes posts, este factor de motivação do voto continua a ter uma força determinante. A chanceler já se encarregou, aliás, de dissipar dúvidas que existissem: «nada vai mudar em termos de orientação de política europeia»: o ajustamento assente na austeridade e no esmagamento dos salários (directos e indirectos) é para continuar.
Mas é também por isso que os resultados das eleições alemãs revelam, em segundo lugar, a incapacidade de diálogo e de construção, à esquerda, de uma proposta alternativa para a crise europeia. De uma proposta clara, robusta, metódica e consequente, capaz de derrubar, de forma convincente, a narrativa hegemónica que assim prevalece. Hegemonia no discurso à direita e défice de convergência programática à esquerda: dois sinais importantes das eleições alemãs que importa ter em conta quando se pensa em Portugal.