Foto de finais do século XIX (daqui)(Recebido por mail como gentil contributo para O Pafúncio)Conta-se que este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e Salazar até se fartou de rir (??!!!) quando o leu: - E X P O S I Ç Ã O -Porque julgamos digna de registoa nossa exposição, senhor Ministro,erguemos até vós, humildemente,uma toada uníssona e plangenteem que evitámos o menor deslizee em que damos razão da nossa crise.Senhor: Em vão, esta província inteira,desmoita, lavra, atalha a sementeira,suando até à fralda da camisa.Falta a matéria orgânica precisana terra, que é delgada e sempre fraca!- A matéria, em questão, chama-se caca.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Se os membros desse ilustre ministérioquerem tomar o nosso caso a sério,se é nobre o sentimento que os anima,mandem cagar-nos toda a gente em cimados maninhos torrões de cada herdade.E mijem-nos, também, por caridade!O senhor Oliveira Salazarquando tiver vontade de cagarvenha até nós solícito, calado,busque um terreno que estiver lavrado,deite as calças abaixo com sossego,ajeite o cú bem apontado ao rego,e… como Presidente do Conselho,queira espremer-se até ficar vermelho!A Nação confiou-lhe os seus destinos?...Então, comprima, aperte os intestinos;se lhe escapar um traque, não se importe,… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?Quantos porão as suas esperançasn'um traque do Ministro das Finanças?...E quem vier aflito, sem recursos,Já não distingue os traques dos discursos.Não precisa falar! Tenha a certezaque a nossa maior fonte de riqueza,desde as grandes herdades às courelas,provém da merda que juntarmos n'elas.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...Tragam-nos merda pura, do bispote!E todos os penicos portuguesesdurante, pelo menos uns seis meses,sobre o montado, sobre a terra campa,continuamente nos despejem trampa!Terras alentejanas, terras nuas;desespero de arados e charruas,quem as compra ou arrenda ou quem as herdasente a paixão nostálgica da merda…Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Ah!... Merda grossa e fina! Merda boadas inúteis retretes de Lisboa!...Como é triste saber que todos vósAndais cagando sem pensar em nós!Se querem fomentar a agriculturamandem vir muita gente com soltura.Nós daremos o trigo em larga escala,pois até nos faz conta a merda rala.Venham todas as merdas à vontade,não faremos questão da qualidade.Formas normais ou formas esquisitas!E, desde o cagalhão às caganitas,desde a pequena poia à grande bosta,de tudo o que vier, a gente gosta.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do AlentejoÉvora, 13 de Fevereiro de 1934O PresidenteD. Tancredo (O Lavrador)
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Foto de finais do século XIX (daqui)(Recebido por mail como gentil contributo para O Pafúncio)Conta-se que este poema foi dirigido ao Ministro da Agricultura do governo de Salazar, como forma de pedir adubos. Por mais estranho que pareça, o senhor que o escreveu não foi preso e Salazar até se fartou de rir (??!!!) quando o leu: - E X P O S I Ç Ã O -Porque julgamos digna de registoa nossa exposição, senhor Ministro,erguemos até vós, humildemente,uma toada uníssona e plangenteem que evitámos o menor deslizee em que damos razão da nossa crise.Senhor: Em vão, esta província inteira,desmoita, lavra, atalha a sementeira,suando até à fralda da camisa.Falta a matéria orgânica precisana terra, que é delgada e sempre fraca!- A matéria, em questão, chama-se caca.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Se os membros desse ilustre ministérioquerem tomar o nosso caso a sério,se é nobre o sentimento que os anima,mandem cagar-nos toda a gente em cimados maninhos torrões de cada herdade.E mijem-nos, também, por caridade!O senhor Oliveira Salazarquando tiver vontade de cagarvenha até nós solícito, calado,busque um terreno que estiver lavrado,deite as calças abaixo com sossego,ajeite o cú bem apontado ao rego,e… como Presidente do Conselho,queira espremer-se até ficar vermelho!A Nação confiou-lhe os seus destinos?...Então, comprima, aperte os intestinos;se lhe escapar um traque, não se importe,… quem sabe se o cheirá-lo nos dá sorte?Quantos porão as suas esperançasn'um traque do Ministro das Finanças?...E quem vier aflito, sem recursos,Já não distingue os traques dos discursos.Não precisa falar! Tenha a certezaque a nossa maior fonte de riqueza,desde as grandes herdades às courelas,provém da merda que juntarmos n'elas.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Adubos de potassa?... Cal?... Azote?...Tragam-nos merda pura, do bispote!E todos os penicos portuguesesdurante, pelo menos uns seis meses,sobre o montado, sobre a terra campa,continuamente nos despejem trampa!Terras alentejanas, terras nuas;desespero de arados e charruas,quem as compra ou arrenda ou quem as herdasente a paixão nostálgica da merda…Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Ah!... Merda grossa e fina! Merda boadas inúteis retretes de Lisboa!...Como é triste saber que todos vósAndais cagando sem pensar em nós!Se querem fomentar a agriculturamandem vir muita gente com soltura.Nós daremos o trigo em larga escala,pois até nos faz conta a merda rala.Venham todas as merdas à vontade,não faremos questão da qualidade.Formas normais ou formas esquisitas!E, desde o cagalhão às caganitas,desde a pequena poia à grande bosta,de tudo o que vier, a gente gosta.Precisamos de merda, senhor Soisa!...E nunca precisámos de outra coisa.Pela Junta Corporativa dos Sindicatos Reunidos, do Norte, Centro e Sul do AlentejoÉvora, 13 de Fevereiro de 1934O PresidenteD. Tancredo (O Lavrador)