A vez da Maria

19-06-2020
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(Carolee Schneemann)

Veio a saudade e mordeu-a. Mastim bicéfalo de presas aguçadas, abriu-lhe o peito, o ventre. Tentou conter o sangue e as vísceras com as mãos, apertando os rasgos profundos, enquanto pontapeava violentamente o monstro. Rangia os dentes na dor furiosa da luta, arquejando e cuspindo palavras incoerentes. Veio-lhe à memória o ritual voodoo de um filme antigo, marioneta empurrada a vontade alheia, cúmplice de um modelo seu distante. Ficou no chão, na refrega da luta, ferida, despida de defesas, na inércia dolorosa que antecede a rendição.

(Carolee Schneemann)

Veio a saudade e mordeu-a. Mastim bicéfalo de presas aguçadas, abriu-lhe o peito, o ventre. Tentou conter o sangue e as vísceras com as mãos, apertando os rasgos profundos, enquanto pontapeava violentamente o monstro. Rangia os dentes na dor furiosa da luta, arquejando e cuspindo palavras incoerentes. Veio-lhe à memória o ritual voodoo de um filme antigo, marioneta empurrada a vontade alheia, cúmplice de um modelo seu distante. Ficou no chão, na refrega da luta, ferida, despida de defesas, na inércia dolorosa que antecede a rendição.

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