“Conheci Sana no meu terceiro dia em Perth na tarde de 9 de fevereiro de 2000”
Ao ler esta frase com que se inicia o prefacio deste livro de Richard Zimmler, decidi logo comprá-lo. Porque gosto imenso de RZ, mas também porque imediatamente pensei que o livro fazia parte da história da minha vida. Ou vice versa... É que, por coincidência, nesse mesmo dia eu aterrara em Perth! Ou seja… não podia ficar indiferente a um livro cuja narrativa começa no dia em que eu aterrei no local onde se desenrola a acção.
Li o livro de um fôlego. Numa viagem de comboio entre Lisboa e Porto foi mais de metade e acabei de o ler nessa mesma noite.
Não se trata propriamente de um romance. É uma mescla de investigação jornalística com ficção. As personagens existem e a maioria dos factos ali relatados são reais.
Aqui fica um resumo breve:
Em Perth, para participar num encontro de escritores, Richard Zimmler conhece Sana, uma mulher com um comportamento estranho que se apresenta como sendo brasileira e bailarina.
Sana confessa-lhe que o desejava conhecer desde que lera o seu romance “ O Último Cabalista de Lisboa”, que a marcara profundamente. Mais tarde, pede-lhe um autógrafo e uma dedicatória e oferece-lhe sabonetes.
Não voltam a falar mas, no dia seguinte, está Zimmler sentado na esplanada do hotel, quando um corpo se projecta de um dos quartos e se estatela no chão. É Sana!
O episódio impressiona o autor mas, só num encontro de escritores em Paris, meses mais tarde, ele vai querer profundar as razões da morte da bailarina, na sequência de um encontro com Helena- amiga de infância de Sana- que pensou ser fruto de uma coincidência.
A partir do momento em que a conhece e fica a saber que o livro autografado em Perth, está nas mãos de Helena, Richard Zimmler torna-se personagem do seu próprio livro e parte na busca sem tréguas da verdade: Sana suicidou-se, ou foi vítima de um crime hediondo?
Avançar mais com a narrativa, seria retirar muito interesse à leitura, que a partir de determinada altura se torna absorvente, tal é o ritmo. o encadear de acontecimentos e revelações surpreendentes, que conferem à investigação do autor ( também jornalista) um cariz policial.
Dir-vos-ei apenas que entre Paris, Bolonha e Haifa, o leitor é atraído para um emaranhado de relações onde se misturam amor,ódio e vingança,no contexto político da guerra israelo-árabe e do terrorismo internacional.
Vale ainda a pena salientar a forma burilada como Zimmler desenha cada uma das personagens e o seu engenho em nos transmitir o extremar de posições (por vezes contraditórias) para que as relações entre as pessoas podem resvalar. Ao ponto de nos sentirmos sentados ao seu lado numa casa em Bolonha, ou num café em Paris, a sugerir-lhe as questões que deve colocar aos seus interlocutores.
Como já escrevi acima, apesar de em determinado momento o livro parecer entrar num novelo sem saída, que lhe quebra o ritmo, foi-me impossível adormecer sem o terminar. Depois, passei dias a reflectir sobre ele, antes de escrever este post.
O extraordinário e comovente “Meia Noite ou o Princípio do Mundo” continua a ser, para mim, o melhor livro de Zimmler mas não posso deixar de manifestar a minha gratidão à D. Quixote por ter reeditado " À procura de Sana" que me tinha passado despercebido aquando da sua publicação em 2007.
Duas semanas depois de ter terminado a sua leitura, continua presente na minha cabeça. De uma forma tão forte, que nem o livro que li a seguir ( Ian Mc Ewan- O Fardo do Amor), nem o que estou neste momento a ler ( Ismail Kadaré -Os Tambores da Chuva) me conseguem desviar da sua memória.
Categorias
Entidades
“Conheci Sana no meu terceiro dia em Perth na tarde de 9 de fevereiro de 2000”
Ao ler esta frase com que se inicia o prefacio deste livro de Richard Zimmler, decidi logo comprá-lo. Porque gosto imenso de RZ, mas também porque imediatamente pensei que o livro fazia parte da história da minha vida. Ou vice versa... É que, por coincidência, nesse mesmo dia eu aterrara em Perth! Ou seja… não podia ficar indiferente a um livro cuja narrativa começa no dia em que eu aterrei no local onde se desenrola a acção.
Li o livro de um fôlego. Numa viagem de comboio entre Lisboa e Porto foi mais de metade e acabei de o ler nessa mesma noite.
Não se trata propriamente de um romance. É uma mescla de investigação jornalística com ficção. As personagens existem e a maioria dos factos ali relatados são reais.
Aqui fica um resumo breve:
Em Perth, para participar num encontro de escritores, Richard Zimmler conhece Sana, uma mulher com um comportamento estranho que se apresenta como sendo brasileira e bailarina.
Sana confessa-lhe que o desejava conhecer desde que lera o seu romance “ O Último Cabalista de Lisboa”, que a marcara profundamente. Mais tarde, pede-lhe um autógrafo e uma dedicatória e oferece-lhe sabonetes.
Não voltam a falar mas, no dia seguinte, está Zimmler sentado na esplanada do hotel, quando um corpo se projecta de um dos quartos e se estatela no chão. É Sana!
O episódio impressiona o autor mas, só num encontro de escritores em Paris, meses mais tarde, ele vai querer profundar as razões da morte da bailarina, na sequência de um encontro com Helena- amiga de infância de Sana- que pensou ser fruto de uma coincidência.
A partir do momento em que a conhece e fica a saber que o livro autografado em Perth, está nas mãos de Helena, Richard Zimmler torna-se personagem do seu próprio livro e parte na busca sem tréguas da verdade: Sana suicidou-se, ou foi vítima de um crime hediondo?
Avançar mais com a narrativa, seria retirar muito interesse à leitura, que a partir de determinada altura se torna absorvente, tal é o ritmo. o encadear de acontecimentos e revelações surpreendentes, que conferem à investigação do autor ( também jornalista) um cariz policial.
Dir-vos-ei apenas que entre Paris, Bolonha e Haifa, o leitor é atraído para um emaranhado de relações onde se misturam amor,ódio e vingança,no contexto político da guerra israelo-árabe e do terrorismo internacional.
Vale ainda a pena salientar a forma burilada como Zimmler desenha cada uma das personagens e o seu engenho em nos transmitir o extremar de posições (por vezes contraditórias) para que as relações entre as pessoas podem resvalar. Ao ponto de nos sentirmos sentados ao seu lado numa casa em Bolonha, ou num café em Paris, a sugerir-lhe as questões que deve colocar aos seus interlocutores.
Como já escrevi acima, apesar de em determinado momento o livro parecer entrar num novelo sem saída, que lhe quebra o ritmo, foi-me impossível adormecer sem o terminar. Depois, passei dias a reflectir sobre ele, antes de escrever este post.
O extraordinário e comovente “Meia Noite ou o Princípio do Mundo” continua a ser, para mim, o melhor livro de Zimmler mas não posso deixar de manifestar a minha gratidão à D. Quixote por ter reeditado " À procura de Sana" que me tinha passado despercebido aquando da sua publicação em 2007.
Duas semanas depois de ter terminado a sua leitura, continua presente na minha cabeça. De uma forma tão forte, que nem o livro que li a seguir ( Ian Mc Ewan- O Fardo do Amor), nem o que estou neste momento a ler ( Ismail Kadaré -Os Tambores da Chuva) me conseguem desviar da sua memória.