Anteontem de manhã vi um cão castanho, labrador retriver, espojado na rua virado para a loja onde estava a dona. Olhei-o, levantou-se e, à sua maneira, sorriu-me abanando a cauda. Depois regressou à vigilância. Há muito tempo que não estava com uma pessoa assim, conversacional apesar de presa a uma árvore. A minha morreu-me há meses e nunca mais consegui conversar com alguém. De uma carta de Fernando Pessoa a Francisco Cabral Metello, datada de 31 de Agosto de 1923. «Espero que a paisagem com que v. presentemente conversa lhe arranje um diálogo que o entretenha. Nem sempre acontece, não é verdade? Há árvores, pedras, flores, rios que são tão estúpidos que parecem gente.»
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Anteontem de manhã vi um cão castanho, labrador retriver, espojado na rua virado para a loja onde estava a dona. Olhei-o, levantou-se e, à sua maneira, sorriu-me abanando a cauda. Depois regressou à vigilância. Há muito tempo que não estava com uma pessoa assim, conversacional apesar de presa a uma árvore. A minha morreu-me há meses e nunca mais consegui conversar com alguém. De uma carta de Fernando Pessoa a Francisco Cabral Metello, datada de 31 de Agosto de 1923. «Espero que a paisagem com que v. presentemente conversa lhe arranje um diálogo que o entretenha. Nem sempre acontece, não é verdade? Há árvores, pedras, flores, rios que são tão estúpidos que parecem gente.»