O super-afinador Fernando Gomes

04-05-2001
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O Super-afinador Fernando Gomes

Sexta-feira, 27 de Abril de 2001

Poucos devem ser os pianistas em Portugal que nunca tenham tocado num piano afinado por Fernando Gomes, o coordenador dos quatro afinadores que estão a assegurar os concertos da Festa da Música Russa, no Centro Cultural de Belém (CCB). Ao longo de cinco dias (três da festa, dois de ensaio) as dez mãos destes profissionais têm a seu cargo 12 pianos verticais, sete de concerto e três de meia cauda, uma maratona complicada já que, como diz Gomes, a música de compositores russos é das que "mais sacrifica o piano".

Fernando Gomes conhece bem os cantos do CCB e a "loucura" do trabalho de uma Festa da Música: foi ele quem assegurou a edição do ano passado, dedicada a Bach, é ele quem se ocupa das temporadas de música clássica no centro. Além de ser o afinador oficial da Gulbenkian, também afina os pianos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, do Teatro de S. Carlos, dos festivais de música do Algarve, de Sintra, de Leiria, dos Capuchos, dos de jazz do Estoril, de Angra do Heroísmo, do Seixal, do Funchal...

Pelos dedos do afinador oficial de Pedro Burmester ou de Pedro Abrunhosa já passaram pianos tocados em espectáculos de Koopman, dos Rolling Stones, de Diana Krall, de Wim Mertens, de Keith Jarret, de Julliette Gréco, de Hanna Schygulla, de Jorge Palma, Rui Veloso, Sérgio Godinho, Mafalda Veiga, António Pinho Vargas, Opus Ensemble...

"Um mundo que nunca mais acaba", diz este homem, nascido em 1952, que passa praticamente todos os dias do ano entre as salas de concertos do país e os estúdios de gravação da Valentim de Carvalho e que está "disponível 24 horas por dia", diz. "Às vezes sou chamado de madrugada para ir resolver problemas. Só não sei é quanto tempo mais aguento este ritmo...", desabafa.

Fernando Gomes começou a estudar piano aos seis anos na Academia dos Amadores de Música, foi aluno de Francine Benoit, a mestra de Maria João Pires. Tinha 17 anos quando José Llorente, afinador da Valentim de Carvalho, lhe propôs passar o testemunho da profissão. Uma idade em que já era tarde demais para começar uma carreira sem ter ganho concursos de piano, sem ter discográficas interessadas em apostar nele, mas ideal para aprender uma profissão onde seria "muito mais necessário", considera.

É assim que define assim o seu trabalho: "A afinação é gerir a tensão das cordas e isso é igual para qualquer obra. O que poderá posteriormente mudar é a harmonização em termos de sonorização, ser mais ou menos brilhante consoante a obra que se vai tocar." Algo que ele faz nos instrumentos dos outros mas não no seu piano de cauda que tem em casa, que não é afinado há cerca de dois anos.

Joana Gorjão Henriques

O Super-afinador Fernando Gomes

Sexta-feira, 27 de Abril de 2001

Poucos devem ser os pianistas em Portugal que nunca tenham tocado num piano afinado por Fernando Gomes, o coordenador dos quatro afinadores que estão a assegurar os concertos da Festa da Música Russa, no Centro Cultural de Belém (CCB). Ao longo de cinco dias (três da festa, dois de ensaio) as dez mãos destes profissionais têm a seu cargo 12 pianos verticais, sete de concerto e três de meia cauda, uma maratona complicada já que, como diz Gomes, a música de compositores russos é das que "mais sacrifica o piano".

Fernando Gomes conhece bem os cantos do CCB e a "loucura" do trabalho de uma Festa da Música: foi ele quem assegurou a edição do ano passado, dedicada a Bach, é ele quem se ocupa das temporadas de música clássica no centro. Além de ser o afinador oficial da Gulbenkian, também afina os pianos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, do Teatro de S. Carlos, dos festivais de música do Algarve, de Sintra, de Leiria, dos Capuchos, dos de jazz do Estoril, de Angra do Heroísmo, do Seixal, do Funchal...

Pelos dedos do afinador oficial de Pedro Burmester ou de Pedro Abrunhosa já passaram pianos tocados em espectáculos de Koopman, dos Rolling Stones, de Diana Krall, de Wim Mertens, de Keith Jarret, de Julliette Gréco, de Hanna Schygulla, de Jorge Palma, Rui Veloso, Sérgio Godinho, Mafalda Veiga, António Pinho Vargas, Opus Ensemble...

"Um mundo que nunca mais acaba", diz este homem, nascido em 1952, que passa praticamente todos os dias do ano entre as salas de concertos do país e os estúdios de gravação da Valentim de Carvalho e que está "disponível 24 horas por dia", diz. "Às vezes sou chamado de madrugada para ir resolver problemas. Só não sei é quanto tempo mais aguento este ritmo...", desabafa.

Fernando Gomes começou a estudar piano aos seis anos na Academia dos Amadores de Música, foi aluno de Francine Benoit, a mestra de Maria João Pires. Tinha 17 anos quando José Llorente, afinador da Valentim de Carvalho, lhe propôs passar o testemunho da profissão. Uma idade em que já era tarde demais para começar uma carreira sem ter ganho concursos de piano, sem ter discográficas interessadas em apostar nele, mas ideal para aprender uma profissão onde seria "muito mais necessário", considera.

É assim que define assim o seu trabalho: "A afinação é gerir a tensão das cordas e isso é igual para qualquer obra. O que poderá posteriormente mudar é a harmonização em termos de sonorização, ser mais ou menos brilhante consoante a obra que se vai tocar." Algo que ele faz nos instrumentos dos outros mas não no seu piano de cauda que tem em casa, que não é afinado há cerca de dois anos.

Joana Gorjão Henriques

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