Planos da nova directora
Jardim de Serralves Aposta na Educação Ambiental
Por LILIANA GARCIA
Sábado, 28 de Abril de 2001
Referência ímpar do património paisagístico e arquitectónico português, no parque de Serralves pretende criar-se um centro de estudos para a paisagem
Há jardins especiais. O de Serralves, no Porto, é um deles. "Este jardim foi criado numa época de guerra e isso foi de um grande atrevimento!", contextualiza a nova directora do jardim de Serralves, Cláudia Taborda. O PÚBLICO foi ouvir as suas ideias para o jardim, donde resulta que a grande aposta desse espaço será na educação ambiental e na criação de um centro de estudos para a paisagem.
A arquitecta da paisagem conta que o conde de Vizela, o primeiro proprietário do jardim, foi um visionário. Na primeira metade do século XX, quando a Europa se encontrava na antecâmara da Segunda Guerra Mundial, o conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral, atreveu-se a mandar construir a Casa e o Parque de Serralves. A propriedade que, originalmente, foi concebida como uma estrutura agrária - mas já com indícios de ser uma quinta de recreio -, constitui uma das mais verosímeis representações da tipologia portuguesa de jardim.
O parque, desenhado em 1932 e concluído em 1940, foi o primeiro a ser construído a partir de um projecto de arquitectura da paisagem. O autor, Jacques Gréber, afastando-se do conceito tradicional de jardins vigente no Porto, concebeu assim um dos poucos exemplos de jardins "art déco" existentes na Europa.
No entanto, a singularidade da paisagem de Serralves não reside apenas no projecto inicial, mas na "capacidade da natureza ser uma recriação permanente", diz Cláudia Taborda, que decidiu ser arquitecta depois de ter lido, aos 14 anos, o livro "Uns Comem os Figos", do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Nascida em Lisboa há 35 anos, a nova directora do jardim, em funções desde Fevereiro, licenciou-se em Évora e doutorou-se na Universidade de Harvard, nos EUA.
Actualmente, com a construção do Museu de Arte Contemporânea, da autoria de Álvaro Siza Vieira, a paisagem de Serralves é entendida ainda como infra-estrutura cultural. Aquilo que começou por ser uma propriedade privada, passou a ser um "espaço de vivência cultural, que representa o mundo rural", indica Cláudia Taborda.
O Parque da Fundação de Serralves - resultante de uma parceria entre o Governo português, instituições públicas e privadas e particulares - constitui hoje um veículo da cultura, do ambiente e da paisagem. Por isso, o espaço adquire uma dimensão, não apenas lúdica, mas educativa, de aprendizagem: "Este é um lugar onde pessoas de várias áreas disciplinares chegam, aprendem, aplicam, reinventam."
Evoluir na continuidade
Cláudia Taborda não pretende criar rupturas. Assim, o seus planos para o jardim não procuram restituir o passado, mas interpretá-lo, dentro do quadro de opções da actualidade. Essencialmente, não deseja "hipotecar o futuro" e, a propósito, aviva a memória: "Nem há 70 anos Jacques Gréber hipotecou a plasticidade desta paisagem." Neste processo de salvaguarda do património, a arquitecta frisa o papel do público: "Quero sensibilizar o público em geral, porque a preservação é feita não através dos eruditos [já sensibilizados], mas dos outros todos."
Consciente da importância e da riqueza de Serralves, a responsável pelo parque ambiciona que este lugar, repleto de "pequeninos mundos", sirva para educar a sociedade, referindo mesmo existirem condições para a criação de um centro de estudos para a paisagem: "Era importante criar aqui teses de mestrado ou de doutoramento, criar hábitos de conferências para questionar qual o significado da paisagem histórica e os seus modos de recuperação."
No horizonte, estendem-se vários projectos, tais como a organização de "ateliers", a criação de um mini-curso sobre a cultura das rosas, a publicação de livros, bem como o desenvolvimento de um sistema de interpretação e de divulgação da paisagem. De modo a provocar um estreitamento da relação da sociedade com este espaço, Cláudia Taborda admite que gostaria de ver, em funcionamento, um regime de voluntariado, constituído fundamentalmente pela terceira idade: "O regime que imagino é o de permanência, em que as pessoas estariam de tal forma informadas, ao ponto de poderem dar informações precisas aos visitantes."
Em relação ao panorama geral português, Cláudia Taborda é peremptória: "A sociedade portuguesa está muito doente, senão não tínhamos a paisagem que temos." É neste contexto que a arquitecta, tendo em conta o conceito de património paisagístico, procura inscrever o jardim de Serralves na lista de jardins históricos internacionais, junto de outros pares europeus e mundiais.
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Jardim de Serralves Aposta na Educação Ambiental
Por LILIANA GARCIA
Sábado, 28 de Abril de 2001
Referência ímpar do património paisagístico e arquitectónico português, no parque de Serralves pretende criar-se um centro de estudos para a paisagem
Há jardins especiais. O de Serralves, no Porto, é um deles. "Este jardim foi criado numa época de guerra e isso foi de um grande atrevimento!", contextualiza a nova directora do jardim de Serralves, Cláudia Taborda. O PÚBLICO foi ouvir as suas ideias para o jardim, donde resulta que a grande aposta desse espaço será na educação ambiental e na criação de um centro de estudos para a paisagem.
A arquitecta da paisagem conta que o conde de Vizela, o primeiro proprietário do jardim, foi um visionário. Na primeira metade do século XX, quando a Europa se encontrava na antecâmara da Segunda Guerra Mundial, o conde de Vizela, Carlos Alberto Cabral, atreveu-se a mandar construir a Casa e o Parque de Serralves. A propriedade que, originalmente, foi concebida como uma estrutura agrária - mas já com indícios de ser uma quinta de recreio -, constitui uma das mais verosímeis representações da tipologia portuguesa de jardim.
O parque, desenhado em 1932 e concluído em 1940, foi o primeiro a ser construído a partir de um projecto de arquitectura da paisagem. O autor, Jacques Gréber, afastando-se do conceito tradicional de jardins vigente no Porto, concebeu assim um dos poucos exemplos de jardins "art déco" existentes na Europa.
No entanto, a singularidade da paisagem de Serralves não reside apenas no projecto inicial, mas na "capacidade da natureza ser uma recriação permanente", diz Cláudia Taborda, que decidiu ser arquitecta depois de ter lido, aos 14 anos, o livro "Uns Comem os Figos", do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles. Nascida em Lisboa há 35 anos, a nova directora do jardim, em funções desde Fevereiro, licenciou-se em Évora e doutorou-se na Universidade de Harvard, nos EUA.
Actualmente, com a construção do Museu de Arte Contemporânea, da autoria de Álvaro Siza Vieira, a paisagem de Serralves é entendida ainda como infra-estrutura cultural. Aquilo que começou por ser uma propriedade privada, passou a ser um "espaço de vivência cultural, que representa o mundo rural", indica Cláudia Taborda.
O Parque da Fundação de Serralves - resultante de uma parceria entre o Governo português, instituições públicas e privadas e particulares - constitui hoje um veículo da cultura, do ambiente e da paisagem. Por isso, o espaço adquire uma dimensão, não apenas lúdica, mas educativa, de aprendizagem: "Este é um lugar onde pessoas de várias áreas disciplinares chegam, aprendem, aplicam, reinventam."
Evoluir na continuidade
Cláudia Taborda não pretende criar rupturas. Assim, o seus planos para o jardim não procuram restituir o passado, mas interpretá-lo, dentro do quadro de opções da actualidade. Essencialmente, não deseja "hipotecar o futuro" e, a propósito, aviva a memória: "Nem há 70 anos Jacques Gréber hipotecou a plasticidade desta paisagem." Neste processo de salvaguarda do património, a arquitecta frisa o papel do público: "Quero sensibilizar o público em geral, porque a preservação é feita não através dos eruditos [já sensibilizados], mas dos outros todos."
Consciente da importância e da riqueza de Serralves, a responsável pelo parque ambiciona que este lugar, repleto de "pequeninos mundos", sirva para educar a sociedade, referindo mesmo existirem condições para a criação de um centro de estudos para a paisagem: "Era importante criar aqui teses de mestrado ou de doutoramento, criar hábitos de conferências para questionar qual o significado da paisagem histórica e os seus modos de recuperação."
No horizonte, estendem-se vários projectos, tais como a organização de "ateliers", a criação de um mini-curso sobre a cultura das rosas, a publicação de livros, bem como o desenvolvimento de um sistema de interpretação e de divulgação da paisagem. De modo a provocar um estreitamento da relação da sociedade com este espaço, Cláudia Taborda admite que gostaria de ver, em funcionamento, um regime de voluntariado, constituído fundamentalmente pela terceira idade: "O regime que imagino é o de permanência, em que as pessoas estariam de tal forma informadas, ao ponto de poderem dar informações precisas aos visitantes."
Em relação ao panorama geral português, Cláudia Taborda é peremptória: "A sociedade portuguesa está muito doente, senão não tínhamos a paisagem que temos." É neste contexto que a arquitecta, tendo em conta o conceito de património paisagístico, procura inscrever o jardim de Serralves na lista de jardins históricos internacionais, junto de outros pares europeus e mundiais.